Balanço

A revenda perde, mas a indústria ganha: 3Tentos dobra lucro

Nova fábrica de biodiesel em Mato Grosso começa a mostrar seu valor, e companhia revisa projeções de produção de biodiesel para cima

Fábrica da 3tentos em Vera, em Mato Grosso

A prometida melhora da 3tentos começou a aparecer. Em um trimestre ainda complexo para as revendas agrícolas, a joia da família Dumoncel superou as expectativas do mercado, mostrando como a estratégia de industrialização faz uma diferença brutal.

No segundo trimestre, 3tentos entregou uma receita líquida de quase R$ 2,8 bilhões, um salto de 59% na comparação anual. Com os grãos mais baratos, os insumos para as indústrias de biodiesel e farelo de soja saem mais em conta, beneficiando a rentabilidade.

Não à toa, a margem bruta ajustada saltou 4,4 pontos, saindo de 9,9% para 14%. O Ebitda aumentou 90%, chegando a R$ 83,4 milhões, o que também garantiu uma forte recuperação do lucro líquido, que atingiu R$ 145 milhões. Antes da divulgação do balanço, os analistas da XP Investimentos projetavam um lucro bem menor, de R$ 40 milhões.

A estreia da fábrica de biodiesel de Vera, em Mato Grosso, foi o que ajudou a impulsionar os resultados da 3tentos na frente industrial, uma área crucial para companhia se diferenciar de outras redes de revendas, como Agrogalaxy, Lavoro e AgroAmazônia.

Como a nova unidade aumentou a capacidade da companhia em 65%, o volume processado mais que dobrou, chegando a 153 milhões de litros de biodiesel e 879,9 mil toneladas de farelo de soja no segundo trimestre.

Mais biodiesel vem aí

Os resultados da área industrial são apenas um aperitivo para o que vem pela frente, especialmente com o aumento da participação do biodiesel na composição do diesel, de 12% e 14%, e da possibilidade de ampliar essa mistura novamente em 2025 — uma decisão que ainda depende do Legislativo.

Nesse cenário, a 3tentos revisou para cima as projeções para a produção de biodiesel em 2024. Agora, a expectativa da companhia é produzir 490 milhões de litros (ante 427 milhões anteriormente) e 1,5 milhão de toneladas de farelo (ante 1,4 milhão de toneladas na projeção anterior).

Embora a indústria pareça ser o diferencial da 3tentos, os resultados em receita e margens melhores são dependentes do modelo integrado da companhia, reunindo indústria, grãos e varejo sob o mesmo guarda-chuva. Assim, a empresa atende os agricultores ao mesmo tempo em que origina matéria-prima para as indústrias, agregando valor.

“Se você me perguntar qual das áreas contribui mais para o nosso crescimento, eu te digo que cada um contribui com 33,33%”, disse Luiz Osório Dumoncel, CEO da 3tentos, em entrevista ao The AgriBiz.

A originação de grãos

O argumento do empresário pode ser visto no balanço. Nos três meses encerrados em junho, o volume de originação de soja quase triplicou, crescendo 172% em relação ao segundo trimestre do ano passado, fechando em 381,7 mil toneladas.

A recuperação da safra de soja no Rio Grande do Sul, Estado de origem da companhia, ajudou, assim como a maior proximidade com produtores e cooperativas no Mato Grosso: o Cerrado já responde por 42% do volume originado de grãos e farelo, contra 5% no mesmo período do ano anterior. 

Como boa parte dessa soja é destinada à fábrica de Vera, a 3tentos também revisou para cima a projeção de originação. A expectativa é originar 2,8 milhões mil toneladas de soja (a estimativa anterior era de 2,4 milhões de toneladas). Do volume originado, 2,1 milhões de toneladas são destinadas ao processamento da própria indústria da companhia.

É essa combinação que dá as bases para que a companhia siga avaliando novas oportunidades no mercado dos biocombustíveis, como o SAF (sigla em inglês para combustível sustentável de aviação).

“A gente sabe que uma das rotas virá através do etanol de milho, estamos nos preparando para entrar nisso a partir de 2026. Em 2025, estamos focados na construção da unidade do Vale do Araguaia”, afirmou o CEO. 

Abertura de revendas

Ao mesmo tempo em que avança em direção aos biocombustíveis, a 3tentos segue em direção a conquistar cada vez mais mercado com suas revendas, abrindo mais lojas especialmente em Mato Grosso.

No segundo trimestre, a companhia abriu quatro novas lojas, duas no Vale do Araguaia, outra na BR-163 e uma no Rio Grande do Sul, chegando a 68 revendas. As novas lojas do Mato Grosso só devem originar milho a partir do ano que vem, aproveitando a demanda para a fábrica de etanol.

“No Rio Grande do Sul, já estamos consolidados, mas no Mato Grosso, estamos apenas começando. Já preenchemos uma parte da BR-163, que tem 5,5 milhões de hectares de soja, e estamos chegando no Vale do Araguaia, com 3 milhões de hectares e um potencial de crescimento muito grande”, contou o CEO.

Mesmo crescendo a base de lojas, a companhia não passa imune do ritmo mais lento de compras por parte do produtor rural, um problema que players como a Boa Safra também sentiram.

A comercialização de sementes, fertilizantes e defensivos teve queda na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, sendo o tombo mais sentido no mercado de sementes: quase 49% em volume comercializado. 

Somada à lentidão nas compras do produtor de soja, a menor área plantada de trigo no Rio Grande do Sul derrubou os resultados da área de distribuição de insumos da campanha. A queda dos preço dos insumos, estimada em torno de 20%, também pessoa, disse Dumoncel.

Diante disso, a companhia defendeu a importância de uma comparação entre safras — não somente entre trimestres — para evitar distorções. Para a 3Tentos, o desempenho do primeiro semestre não deve ser a base para o restante do ano. A recuperação vem aí, segundo o empresário.

“Período safra, olhando para o ano de 2024, vemos uma perspectiva de o segundo semestre contribuir muito bem para o resultado da companhia. Temos uma carteira de pedidos bastante robusta”, resumiu.

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Listada na B3 desde 2021, a 3tentos está avaliada em R$ 5,2 bilhões. Desde o IPO, as ações caíram 11%, o que alguns gestores veem como uma oportunidade de compra.