Opinião

As boas margens do agro não vêm sem riscos. É melhor saber geri-los

As boas margens dão resiliência ao agro, mas não podemos esquecer que elas podem minguar muito rapidamente

Riscos no agro

Como já comentamos nesse espaço, estamos enfrentando um período complicado para o agronegócio nacional. O mais difícil da história? Creio que não, longe disso. Mas provavelmente é o mais alavancado, e isso tem deixado sua marca.

Às vezes me perguntavam o que eu fazia para a empresa na qual trabalhava e, por muitos anos, tive dificuldade em encontrar uma resposta simples que não entrasse em detalhes de fluxos financeiros, mercados e economias. Apenas depois de enfrentar alguns períodos realmente conturbados que consegui encontrar uma resposta simples.

Minha função como gestor de riscos de mercado é não deixar a empresa quebrar. E tenho usado essa definição desde então.

A boa gestão de risco de mercado para o produtor rural e os primeiros elos da cadeia de produção é essencial. Muita gente se esquece que a velha relação entre risco e retorno se aplica a toda atividade econômica. As boas margens e resultados do agro não vêm sem sua contrapartida de risco, e não apenas do risco de variação de preços.

Vamos revisar as dimensões usuais de risco e como elas podem afetar o agronegócio:

  • Risco estratégico: Fica muito evidente quando o produtor tem que tomar decisões sobre planos de produção, investimento em tecnologia de sementes e manejo com baixa visibilidade sobre o retorno que será obtido;
  • Risco de mercado: A volatilidade, a sazonalidade e os grandes ciclos são características importantes dos preços das commodities. Conhecer esses riscos e se proteger é crucial;
  • Risco de crédito: Manter um bom nome na praça (credibilidade) faz a diferença no momento de aperto;
  • Risco de liquidez: A produção agrícola, em especial, tem eventos de liquidez pontuais, e isso exige muita disciplina com o fluxo de caixa;
  • Risco operacional: O produtor brasileiro é, geralmente, um ótimo operador, mas as novas tecnologias e o cuidado com os custos têm gerado novas demandas e padrões de controles;
  • Risco jurídico, legal e trabalhista: Além de questões mais corriqueiras, temos que lembrar que alimentos são estratégicos para os governos e eles podem agir, para o bem ou para o mal (depende do ponto de vista), como vimos no caso do arroz recentemente;
  • Risco ambiental: Vivemos um tempo em que assistimos cada vez mais coisas inimagináveis ocorrerem, e temos que levar isso em conta. Pense na tragédia do Rio Grande do Sul;
  • Risco reputacional: Muito ligado ao risco de crédito. Números bonitos às vezes não bastam para um bom relacionamento financeiro;
  • Risco cibernético: Até pouco tempo atrás, esse risco não afetaria a produção agrícola, mas com o emprego cada vez maior de tecnologia em máquinas e fazendas, passa a ser ponto de atenção.           

E como gerir todas essas dimensões de forma integrada? Muitas dessas dimensões são instintivas e todos nós as consideramos de vez em quando. O segredo é criar uma governança que funcione para cada caso específico, calibrada para o perfil de risco e situação estratégica.

As boas margens dão resiliência ao agro, mas não podemos esquecer que elas podem minguar muito rapidamente se não nos atentarmos aos riscos do negócio. Nossa tese de que o agro carrega o futuro do nosso país segue inabalada, mas precisamos trabalhar duro e estar preparados. Mar calmo nunca fez bom marinheiro, diz o ditado.

Direto da mesa de risco

A consolidação do plantio americano e as boas chuvas trouxeram alívio para os mercados neste mês. Bom tempo na Rússia colaborou e ajudou a segurar o trigo. Ficamos agora no aguardo do weather market para agitar o mercado.

Apesar de notícias de perdas pontuais, a safrinha de milho deve se confirmar boa e pressiona os preços.

O grande destaque do mês foi a desvalorização do real, que compensou boa parte dos ajustes em Chicago. Governo e mercado seguem trocando sinais sobre a condução do fiscal, mas o posicionamento dos estrangeiros e a performance dos fundos mostra que a confiança está avariada.

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Rafael Harada, colunista de The AgriBiz, é CEO e cofundador da Virtus Advisors, possui mais de 20 anos na gestão de riscos de commodities e câmbio na JBS, onde foi diretor global de gestão de riscos. É engenheiro com ampla experiencia em mercados de commodities agrícolas e finanças corporativas.