Alexandre Mendonça de Barros, um dos economistas agrícolas mais respeitados do país, poucas vezes esteve tão preocupado com as condições de uma safra de grãos. Diante do clima árido, que retardou a semeadura da soja e provocou o replantio em diversas regiões de Mato Grosso, ele chegou a temer pelo pior.
“É o pior começo da safra que vi em 30 anos. Foi um desastre. Batemos na trave, mas parece que vamos sair dessa relativamente bem”, disse Mendonça de Barros em uma apresentação a analistas durante o Minerva Day, encontro realizado nesta terça-feira na capital paulista.
Em dado momento da safra, o economista passou a acreditar que o pior cenário traçado pelos algoritmos de previsão da MB Agro estava mesmo a caminho, com uma colheita de apenas 138 milhões de toneladas de soja, o que seria uma quebra substancial na comparação com as 165 milhões de toneladas esperadas inicialmente pela consultoria.
Para alívio geral, os modelos climáticos do El Niño — dos Estados Unidos e União Europeia, sobretudo — estão apontando uma melhora rápida do clima a partir de janeiro, o que também pode melhorar a situação para o milho safrinha, que inevitavelmente sofrerá uma queda na área plantada.
“Muito provavelmente estamos vendo o auge do El Niño. Se passar dezembro, a safra de soja e a safrinha de milho têm condições de ter volumes muito importantes. Menor do que a safra deste ano, mas nada desastrosa”, disse Mendonça de Barros, ponderando que o cenário ainda é volátil para uma conclusão definitiva.
No cenário mais benigno que passou a traçar nas últimas semanas, Mendonça de Barros trabalha com uma colheita de soja mais próxima de 148 milhões de toneladas — uma queda de 4,2% sobre as 154,6 milhões de toneladas da safra 2022/23 —, podendo ficar em um intervalo de até 155 milhões de toneladas, número que converge para a última estimativa da Datagro, por exemplo.
“Não é absurdo”, diz Mendonça de Barros. Nesses volumes, o impacto da quebra da safra brasileira sobre os prêmios da soja no porto tende a ser pequeno, avaliou.
Saca de milho sobe R$ 6
Para a safrinha de milho, Mendonça de Barros vem trabalhando com uma redução de 15 milhões de toneladas no volume colhido, um reflexo de uma área plantada que será menor e com menor uso de tecnologia.
“Isso daria uma safrinha de 90 milhões de toneladas”, projetou ele. Na temporada 2022/23, o Brasil colheu 102 milhões de toneladas na safrinha, um recorde, de acordo com dados da Conab.
Com a oferta menor, os clientes do mercado interno tendem a pagar mais para manter o cereal no país. A hipótese de Mendonça de Barros é que o preço do milho subirá R$ 6 por saca dos atuais patamares. Ontem, o indicador Esalq/BM&FBovespa estava em R$ 61,51 por saca.
Se isso se confirmar, as exportações de milho terão de ficar mais próximas de 40 milhões de toneladas, e não 55 milhões de toneladas. Diante do caos pintado no começo da safra, não é um cenário tão ruim, disse. Para as indústrias de aves e suínos que compram grãos para a ração, também é um alívio.
A confirmação das previsões de Mendonça de Barros, no entanto, ainda depende dos desdobramentos climáticos das próximas semanas, com o El Niño ainda mostrando sua força. “Precisa passar essa pinguela de dezembro”, reconheceu.
Para um gestor que acompanhou diversas palestras de Mendonça de Barros ao longo do ano, a apresentação no Minerva Day foi realmente uma inflexão. “Ele estava muito preocupado na última que acompanhei”, disse.