Opinião

Com a reforma, planejamento tributário ficou mais importante no agro

“Um bom planejamento tributário pode ser o gatilho para a melhoria de margens no agronegócio”, escreve José David

Tributação

Produtores rurais são, mais do que nunca, empresários do campo. Em um mundo altamente conectado, em que eventos geopolíticos no Leste Europeu influenciam o planejamento da produção no interior da Bahia, é cada vez mais importante e, acima de tudo, necessário que os empreendimentos rurais e os business das cadeias produtivas sejam administrados com profissionalismo e competência, como uma verdadeira empresa deve ser.

Planejamento estratégico, visão, metas, gestão qualificada e governança são cada vez mais necessários para o bom andamento dos agronegócios, ainda mais em um mundo globalizado e em um país como o nosso, com enormes desafios e desigualdades e gerador contumaz de crises.

Nesse contexto, um elemento do planejamento se mostra cada vez mais relevante na tomada de decisões que afetam as margens e, ao fim e ao cabo, o lucro: o planejamento tributário. O enormemente complexo sistema tributário nacional, por si só, já é fundamento suficiente para o planejamento fiscal dos agronegócios.

Em um cenário de reforma tributária em curso, mudanças constantes de regras de tributação e de contencioso administrativo, jurisprudência que se altera em ciclos cada vez menores e de sanha arrecadatória dos governos, o planejamento tributário das operações, mesmo para os pequenos produtores rurais, mostra-se fundamental para a perenidade dos agronegócios e para o crescimento da produção — e dos lucros — no longo prazo.

A importância do planejamento

Um bom planejamento tributário é ferramenta essencial para o produtor rural, as agroindústrias, os grupos familiares do agronegócio e até para as cooperativas. A análise cuidadosa dos riscos e das oportunidades tributárias para os stakeholders do campo permite a otimização dos recursos financeiros, especialmente quanto à gestão de caixa e à geração de fluxo para investimentos, assim como possibilita a redução lícita da pesada carga tributária.

Através de um estudo detalhado das normas vigentes, das especificidades do negócio e, principalmente, dos objetivos estratégicos do agribusiness, o empresário rural e os dirigentes do agronegócio podem identificar caminhos e estratégias interessantes do ponto de vista fiscal. Essas escolhas estratégicas, alinhadas aos objetivos do negócio, resultam em economia de tributos, liberando mais capital para investimentos na produção, nas soluções tecnológicas e nas demandas dos mercados consumidores.

Além da economia direta, o planejamento tributário eficiente proporciona aos stakeholders uma visão clara e estruturada das obrigações fiscais e dos riscos e oportunidades envolvidos em cada caminho possível, mitigando os riscos e reduzindo a probabilidade de autuações fiscais e aplicação de pesadas multas. Isso garante uma maior segurança, assim como reduz o espaço para dores de cabeça, liberando os empreendedores, dirigentes e profissionais envolvidos para focar no desenvolvimento e crescimento do agronegócio. Ademais, estruturas eficientes e a otimização da operação sob o ponto de vista tributário geram economia para os agronegócios, melhorando índices financeiros e gerando maior riqueza para os sócios e a sociedade como um todo.

Destaca-se também que o planejamento tributário contribui para a sustentabilidade dos agronegócios a longo prazo. Ao manter uma gestão eficiente dos tributos, os stakeholders planejam melhor suas atividades e investimentos futuros. A maior previsibilidade dos gastos e obrigações fiscais, mesmo em um contexto de mudanças repentinas de regras, permite a elaboração de estratégias de expansão e inovação, fortalecendo a competitividade. Dessa forma, o planejamento tributário não só protege e pereniza o patrimônio, como também impulsiona o desenvolvimento contínuo e sustentável do agronegócio brasileiro.

A reforma tributária

Os desafios trazidos pela reforma tributária em curso, especialmente em questões sucessórias e de produção para médios e grandes produtores rurais que exploram a atividade na pessoa física, reforçam a necessidade de um planejamento tributário robusto.

O período de concomitância do “sistema antigo”, ainda com PIS, COFINS e ICMS, e do modelo CBS/IBS, demandará atenção e diligência de todos que se preparam – ou não – para 2033, quando se espera que o novo modelo tributário de IVA dual estará plenamente vigente. Pensar a longo prazo e se preparar antecipadamente para os desafios vindouros pode ser o divisor de águas entre os agronegócios que se perenizarão no tempo e os que enfrentarão ondas turbulentas e perigosas pelo caminho.

No mais, mudanças no sistema de julgamento de defesas e recursos do ITR, as prováveis limitações no sistema de aproveitamento de créditos fiscais, os desafios futuros de conciliação de receitas e despesas na produção, a obrigatoriedade de declaração de incentivos fiscais, as alterações nas regras dos Fiagross e as modificações na emissão de títulos de crédito relacionados ao setor fazem com que o planejamento, não apenas o tributário, e a estratégia sejam tópicos fundamentais para o enfrentamento dos desafios de produzir e empreender no Brasil.

Assim, um planejamento tributário alinhado à estratégia de produção, distribuição e comercialização beneficia o agronegócio de todos os portes, antes, depois e, principalmente, dentro da porteira.

Dentro dos limites legais, é possível realizar melhorias nas estruturas de negócios de todos os portes, de forma a propiciar economias fiscais e maior retorno para investimentos e remuneração dos sócios.

Como muitas variáveis dos negócios estão fora do controle dos stakeholders do agro, tais como o clima e as oscilações de preços internacionais de commodities, um bom planejamento tributário, somado a outros instrumentos e ações, pode ser o gatilho para a melhoria de margens e para o crescimento e perenização dos agronegócios por gerações.

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José David, colunista de The AgriBiz, é advogado, consultor e conselheiro de agronegócios.