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B3 estreia em café conilon e mira também futuros de ouro 

Futuros de conilon ajudarão a indústria brasileira a se proteger de oscilações bruscas de preço em um momento de alta demanda externa pela variedade no Brasil

A B3 está de olhos atentos ao potencial dos contratos futuros de commodities. Em meio ao recorde de preços do café conilon, a bolsa lançou nesta semana os contratos futuros desta variedade, visando atender à demanda da cadeia, cujos grãos são vendidos principalmente no mercado interno.  

“Hoje, há contratos negociados na bolsa de Londres envolvendo o café robusta, mas como o maior produtor global é o Vietnã, marca-se muito mais o preço asiático do que o do café brasileiro. Então, a correlação entre preço local e do contrato não é tão alta”, afirma Marielle Brugnari, gerente de Produtos de Commodities da B3.

Durante os dois anos em que a B3 trabalhou para desenvolver o contrato, o preço do robusta explodiu no Brasil e no mundo, refletindo quebras de safra no Vietnã, principal produtor, e na Indonésia, outro grande produtor. A menor oferta de café robusta nos países asiáticos tem direcionado mais demanda para o Brasil, que elevou as exportações da variedade.

A maior demanda bateu nos preços. A saca do café robusta passou de R$ 646, em outubro de 2022, para chegar à média de R$ 1.491 em setembro deste ano, segundo o indicador Cepea/Esalq.

Foi a primeira vez em sete anos que o café robusta, normalmente usado em blends de torrefadoras e na produção de café solúvel, ultrapassou o preço do arábica, que é considerado mais nobre.

Para a indústria de café solúvel, o contrato é uma forma de se proteger de variações bruscas da commodity. “É importante ter uma nova ferramenta de trava de preços futuros que ampliará a proteção das cotações do produto contra flutuações inesperadas, auxiliando na redução do risco nas operações”, disse em nota Fábio Sato, presidente da Abics (Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel).

Contrato em reais

Os contratos de café conilon entraram efetivamente no sistema da B3 na segunda-feira (23), negociados em reais — diferentemente dos contratos de café arábica, que são em dólar devido à alta (e mais tradicional) demanda desta variedade para exportação.

Apesar dessa diferença, os contratos futuros de café conilon devem seguir em boa medida os parâmetros já estabelecidos para o arábica. Neles, também será possível atrelar os papéis à entrega física, com armazéns credenciados pela B3. 

Os contratos também serão negociados no mesmo formato, com cada um deles equivalente a 100 sacas de 60 quilos. Os vencimentos serão nos meses de janeiro, março, maio, julho, setembro e novembro.

Para dar uma dimensão do potencial de mercado, em agosto, os contratos de café arábica tiveram uma média de negociação de 1 mil contratos por dia, resultando em um volume financeiro diário médio de R$ 170 milhões. Cada contrato possui um valor financeiro de aproximadamente R$ 165 mil. No estoque, em agosto de 2024, estavam mais de 6,8 mil contratos. 

“No caso do arábica, em maio entra um novo formador de mercado, de olho em fomentar a liquidez desse mercado. Nosso plano, em médio prazo, é também fazer o mesmo para o conilon”, explica a executiva.

Futuro de ouro

A novidade está longe de ser a última apresentada pela B3 nesse mercado. De acordo com a executiva, a bolsa mantém estudos periódicos a respeito de outros contratos de commodities e, atualmente, um dos ativos analisados é o contrato futuro de ouro. 

“É um mercado de reserva de valor e algo que certamente estamos olhando. Temos conversas ainda em estágio inicial sobre diferentes tipos de commodities, mas a nossa visão é a de que existe uma oportunidade enorme a ser aproveitada”, afirma Brugnari.  

Hoje, a B3 negocia pelo menos seis contratos futuros de commodities: café arábica, milho, soja CME, soja FOB Santos, boi gordo e etanol hidratado — além, é claro, do recém-lançado de café conilon.

Ao todo, a área de commodities dentro da B3 movimentou, em agosto deste ano, 22 mil contratos por dia (entre futuros, opções e rolagens), que representam um volume financeiro diário de R$ 840 milhões.