Meteorologia

Cadê o El Niño? Sul e Argentina sofrem com calor e pouca chuva

Não chove intensamente no Sul do Brasil há pelo menos dez dias, apesar do El Niño. Na Argentina, temperaturas ultrapassam 40°C

Depois de provocar uma quebra histórica na safra de soja de Mato Grosso, principal produtor de grãos do País, o El Niño está trazendo mais uma surpresa para a safra 2023/24 —desta vez no Sul do Brasil e na Argentina.

Há pelo menos dez dias, não chove intensamente em boa parte da região Sul, no Mato Grosso do Sul e no interior de São Paulo. Na metade sul do Rio Grande do Sul, já são mais de 20 dias sem chuva intensa. E o clima adverso, durante uma etapa crucial para a definição de produtividade na região, desperta novas preocupações para a safra brasileira.

Normalmente caracterizado por levar chuva acima da média ao Sul do País e à Argentina —além de um tempo mais seco no Norte e Nordeste e neutralidade na parte central do Brasil —, o El Niño tem sido afetado por um outro fenômeno: o repentino aquecimento do oceano Atlântico.

Esse aquecimento do Atlântico resultou num aumento de umidade na Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais e Goiás, e diminuiu o efeito do El Niño no centro e sul do País nos dois últimos meses.

Algumas áreas de soja no Rio Grande do Sul já sentem o efeito da diminuição das chuvas. De forma geral, as lavouras ainda estão em boas condições, mas, pontualmente, há deficit hídrico, segundo informações do boletim da Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado) divulgado em 1 de fevereiro.

Argentina

A situação é mais preocupante na Argentina. O país vizinho está sob a parte mais intensa do chamado “domo de calor”, uma extensa área com ar quente e temperaturas máximas próximas dos 40°C, sobretudo na Província de Entre Rios.

O mapa da atual umidade do solo fornecido pelo Serviço Meteorológico da Argentina indica valores abaixo do ideal para o desenvolvimento agrícola na maior parte das áreas produtoras do país, com exceção de Córdoba. Embora já existam perdas pela estiagem, elas não são comparáveis às vistas no ano passado, segundo a Bolsa de Cereais de Buenos Aires.

Algumas regiões na Argentina terão um alívio nesta semana com o retorno da chuva às províncias de Buenos Aires, Entre Rios, La Pampa e sul de Santa Fé.

O EL Niño no Brasil

Nos próximos dias, o tempo permanecerá seco e quente em boa parte do sul do Brasil, diminuindo cada vez mais a umidade do solo. Simulações indicam aumento da precipitação sobre o Rio Grande do Sul e sul de Santa Catarina apenas a partir da terça-feira da semana que vem. Depois, até 19 de fevereiro, a chuva avançará lentamente pelo Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul.

Mesmo com a chuva dos próximos dias, fevereiro terminará com precipitação abaixo da média na região Sul, sul de Mato Grosso do Sul, oeste de São Paulo e nordeste da Argentina. O potencial produtivo até deve diminuir um pouco mais em relação aos valores atuais projetados no Rio Grande do Sul e Argentina, mas estamos distantes de grandes quebras como as vistas nos últimos anos.

Mais ao norte, a expectativa é de precipitação acima do normal em fevereiro em Estados como Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Rondônia. Produtores de Goiás e do Triângulo Mineiro já vêm relatando um aumento da frequência de chuva e dificuldades na colheita da soja e plantio da safra de milho. E a tendência é de que as janelas sem chuva sejam pouco duradouras nas próximas semanas.

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Celso Oliveira, colunista do The AgriBiz, é meteorologista com mais de 20 anos de experiência em análises climáticas para a agricultura. Atualmente, é diretor de operações da Prisma Meteorologia e analista do grupo Safira.