Uma frente fria chegou às regiões Sudeste e Centro-Oeste no fim da semana passada e quebrou um longo período de calor excessivo.
O sistema frontal levou muita chuva para a região serrana do Rio de Janeiro e para o sul do Espírito Santo, com acumulados que chegaram a 300 milímetros em apenas 24 horas.
No interior do país, os mais beneficiados pelas chuvas foram o centro de Minas Gerais, Triângulo Mineiro, sudoeste de Goiás e o Vale do Araguaia, uma região entre Mato Grosso, Pará, Tocantins e Goiás. Em sete dias, essas regiões receberam cerca de 60 milímetros.
A precipitação aumentou a umidade do solo e trouxe efeitos benéficos que serão percebidos mais no longo prazo, como o desenvolvimento da segunda safra de milho.
De forma mais imediata, porém, há preocupação com a paralisação das atividades de campo. Na região do Distrito Federal, por exemplo, a colheita da soja está parada desde o último fim de semana.
Próximas semanas
A situação não mudará muito até o fim do primeiro decêndio de abril. As precipitações mais intensas permanecerão sobre o Matopiba e os Estados do Pará, Rondônia, Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais.
Na Bahia, os produtores de algodão estão preocupados com possíveis invernadas, pois a elevada umidade faz com que plumas que ficam nas partes mais baixas das plantas absorvam muita umidade e piorem sua qualidade.
A região Sul, por outro lado, receberá menos chuva que o normal. Embora o tempo não fique completamente seco, a diminuição da precipitação é bem-vinda pelos arrozeiros do Rio Grande do Sul. Os temporais da semana passada provocaram acamamento do cereal, ou seja, derrubaram algumas plantas. A diminuição da chuva ajudará na retomada das atividades de manutenção e colheita.
Preocupação localizada
No meio do caminho entre o Rio Grande do Sul e a porção norte do Brasil, há uma região entre o Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul que vem recebendo menos chuva que o normal desde novembro passado.
A estiagem provoca diminuição gradativa da produtividade de áreas de segunda safra de milho, de café e de cana de açúcar. A Conab, em sua atualização semanal das condições das lavouras, indica que áreas de milho em emergência, desenvolvimento vegetativo e floração sentem o atual déficit hídrico nos três Estados.
Enquanto isso, nos EUA…
Com a entrada da primavera no Hemisfério Norte, as atenções aumentam com relação à próxima safra americana, lembrando que em 2023 a estiagem trouxe perdas importantes ao Meio Oeste.
Neste ano, independentemente da previsão, vale a pena ficar de olho na umidade do solo atual. Ela está bem mais elevada que a registrada no mesmo período de 2023. Isso é um ponto de partida importante para entendermos como será o início do plantio. Com maior umidade, a chance de atraso e replantios por estiagem é menor.
As simulações climáticas, por enquanto, não ajudam tanto a explicar como será a chuva na primavera, pois há uma chance igual de chuva dentro, acima e abaixo da média para os próximos três meses.
A indefinição não é desejável, mas acontece justamente por conta do rápido declínio do fenômeno El Niño dentro de uma estação de transição (primavera do Hemisfério Norte). As incertezas são muito grandes e as simulações encontram dificuldade em definir um cenário mais claro.
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Celso Oliveira, colunista do The AgriBiz, é especialista em tempo e clima da Safira Energia. Atua há mais de 20 anos em análises climáticas para agricultura.