A chuva vem intensificando cada vez mais sobre o Brasil. Além de acumulados elevados, nesta semana apareceram as primeiras “invernadas” em Mato Grosso. O termo, muito comum no campo, é usado para dias completamente fechados, chuvosos e com temperatura mais baixa.
A situação paralisa as atividades de campo, seja o plantio da soja ou a manutenção de áreas já instaladas, diminui a fotossíntese e aumenta a chance de desenvolvimento de doenças como a ferrugem. Só na primeira semana de novembro, a precipitação acumulada ultrapassa 150 milímetros em fazendas da região da BR-163, o equivalente a 70% do normal para todo o mês.
E a chuva não vai parar tão cedo. Uma sucessão de frentes frias manterá o elevado acumulado não somente em Mato Grosso, mas em boa parte das regiões Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Matopiba. Somente entre os dias 9 e 15 de novembro, o acumulado previsto passa dos 150mm em municípios de Minas Gerais, Tocantins, Goiás e Mato Grosso. Ou seja, algumas áreas produtoras de Mato Grosso poderão receber 300mm em apenas 15 dias.
No Rio Grande do Sul, alguns produtores estão preocupados com a chuva mais irregular. A umidade do solo é adequada para germinação da soja, mas caso a gangorra da precipitação continue pendendo para o centro e norte do Brasil, o calor fará com que a camada mais superficial do solo seque rapidamente.
Tempo mais seco à frente
A gangorra das chuvas mudará completamente na segunda quinzena de novembro. As frentes frias estacionarão sobre a região Sul, fazendo com que a maior parte do Brasil tenha tempo bem mais seco e quente.
Algumas anomalias negativas chamam a atenção. Entre 16 e 22 de novembro, estimam-se menos de 20mm no centro e leste de Mato Grosso, oeste e norte de Goiás, sudeste do Pará e em boa parte do Tocantins. Por conta do tempo chuvoso dos próximos dias, esse período seco será bem-vindo em Mato Grosso.
Outro período mais seco acontecerá entre 24 de novembro e 4 de dezembro em boa parte da região Sudeste e no Estado de Goiás. Em aproximadamente dez dias, é possível que alguns municípios do norte de São Paulo e de Minas Gerais não tenham chuva alguma às portas do verão, estação que normalmente é chuvosa.
Como o período seco será mais longo, será importante monitorar o ciclo das culturas. Caso haja coincidência de florada ou enchimento de grãos, o potencial produtivo pode diminuir.
La Niña ainda mais fraca
O fenômeno La Niña, resfriamento da água superficial do oceano Pacífico equatorial central, parece que não terá força para desenvolver de forma plena. Possivelmente, o atual período úmido será neutro com viés frio. Isso significa que a água do Pacífico até ficará mais fria que a média, mas não conseguirá chegar ao mínimo necessário para ser considerado La Niña.
Com poucas condições para a formação do fenômeno, as normais climatológicas devem prevalecer. Em novembro, dezembro e janeiro, a simulação europeia ECMWF indica chuva acima da média no Sudeste, Centro-Oeste e Norte, além do norte do Paraná. Por outro lado, a chuva será mais fraca que o normal na região Nordeste, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. O Maranhão será o mais penalizado pela falta de precipitação. Se o La Niña fosse mais intenso, a chuva forte alcançaria o Nordeste.
A temperatura não será tão elevada como a observada no mesmo período do passado. Entre o fim de 2023 e início de 2024, o El Niño intenso ajudou a deixar a temperatura mais elevada. Desta vez, com a neutralidade e o viés frio, a temperatura ficará próxima do normal na maior parte do País.
O calor será mais intenso apenas no Nordeste, justamente por conta da chuva abaixo da média e menor quantidade de nuvens, além dos estados do Tocantins, Pará, Amapá, Amazonas e Roraima. O Piauí terá a maior anomalia de temperatura do trimestre.
***
Celso Oliveira, colunista de The AgriBiz, é especialista em clima e tempo da Safira Energia. Atua há mais de 20 anos em previsões climáticas para a agricultura.