
A chuva alcançou boa parte das áreas agrícolas do Brasil nos últimos dez dias. Destaco o Rio Grande do Sul, que depois de meses de seca, recebeu pelo menos 70mm. Mas a chuva não veio em boa hora: agora, os produtores gaúchos não conseguem avançar com a colheita da soja devido à elevada umidade.
No Paraná, a precipitação acumulada foi bem mais modesta, inferior a 30mm. Ainda assim, a umidade do solo está adequada para o desenvolvimento agrícola. Mato Grosso do Sul e em Mato Grosso receberam cerca de 50mm, favorecendo o desenvolvimento da segunda safra de milho.
No Sudeste, apesar das tempestades observadas no estado do Rio de Janeiro no último fim de semana, a precipitação foi mais fraca no interior da região. A umidade do solo está abaixo do ideal para o desenvolvimento da cana do centro de São Paulo e para a segunda safra de milho do Cerrado de Minas Gerais. O déficit hídrico também é visto no leste de Goiás e na Bahia.
Mas o estado nordestino receberá chuva forte neste fim desta semana — previsões indicam mais de 100mm em alguns municípios do oeste baiano. Assim como no Rio Grande do Sul, a chuva forte neste momento mais atrapalha do que ajuda as atividades de campo, pois a Bahia está em pleno processo de colheita do feijão, milho e soja. Além disso, os dias mais chuvosos podem diminuir a qualidade da pluma de algodão em algumas fazendas.
Além da Bahia, a chuva alcançará o Tocantins, Maranhão, Piauí, Pernambuco e o norte dos estados de Goiás e de Minas Gerais.
No decorrer da semana que vem, será a vez da chuva ser intensa sobre o Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul devido à passagem sucessiva de sistemas de baixa pressão. Neste caso, a precipitação será benéfica para o desenvolvimento do milho e da cana de açúcar, embora paralise os tratos culturais.
Não há previsão de frio intenso a ponto de causar danos nas lavouras por pelo menos 15 dias. No entanto, a ausência dos fenômenos El Niño e La Niña neste outono aumenta a chance da entrada de ondas de frio mais intensas pelo interior do País entre maio e junho.
Ontem, a NOAA (a agência norte-americana de monitoramento meteorológico) confirmou que a atmosfera entrou em condições de neutralidade em março, ou seja, sem a presença de El Niño e La Niña.
Estados Unidos
O plantio de milho e de algodão começou nos Estados Unidos, e as condições iniciais de umidade do solo são importantes para indicar a velocidade do processo e eventuais perdas pela estiagem que quase sempre é observada no verão.
De uma forma geral, o solo está mais seco neste ano em relação a 2024, mas não há relato de grandes déficits nos principais estados produtores. As poucas áreas com “seca extrema” estão nas Dakotas e em Nebraska. No ano passado, este índice era visto em Iowa.
É possível que mais à frente, em junho e julho, apareça especulação em torno de estiagem. No entanto, sem o fenômeno La Niña, a tendência é de que a diminuição da chuva aconteça pontualmente.
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Celso Oliveira, colunista de The AgriBiz, é especialista em clima e tempo da Safira Energia. Atua há mais de 20 anos em previsões climáticas para a agricultura.