Soja

Chuva volta, mas será insuficiente para o início do plantio

Apesar do retorno das chuvas na segunda quinzena de setembro, acumulado até o final do mês não será suficiente para iniciar o plantio de soja no Centro-Oeste

O período seco está mais extremo que o normal no Brasil. Além da grande quantidade de queimadas no último fim de semana, não há chuva abrangente há mais de quatro meses e o solo está praticamente sem água em boa parte do País. É o caso de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Goiás, Mato Grosso e do Matopiba.

A vazão dos rios representa a atual umidade do solo. O subsistema Sudeste/Centro-Oeste, do qual faz parte a bacia do rio Madeira, em Rondônia, está com a pior vazão já registrada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que tem um histórico de 94 anos. A vazão do Subsistema Norte está com a segunda pior vazão, enquanto o Subsistema Nordeste está com a quinta pior vazão da história.

A vegetação sente toda essa seca e os atuais índices de saúde das plantas (NDVI), sejam culturas ou vegetação nativa, mostram uma situação pior do que a registrada no ano passado, especialmente em Mato Grosso do Sul, Rondônia e Acre.

Cadê a La Niña?

Antes de falarmos sobre a volta das chuvas, vamos contextualizar a situação atual. A temperatura do oceano Pacífico equatorial central está praticamente dentro da média e o fenômeno La Niña (resfriamento do oceano) não consegue evoluir. Isso acontece, em parte, por conta da vizinhança aquecida. Áreas ao norte e ao sul da linha do Equador estão mais quentes que o normal e dificultam a formação do fenômeno.

Uma simulação feita pela Universidade de Columbia indica que o resfriamento será mais intenso apenas entre os meses de outubro e janeiro, período insuficiente para que seja considerado La Niña efetivamente. Neste contexto, teríamos, no máximo, uma neutralidade com viés frio.

Além de tudo, no oceano Atlântico, há uma outra área fria entre a linha do Equador e a costa do Nordeste. Algumas notícias mencionaram um segundo La Niña e, de fato, artigos científicos chamam esse resfriamento de “La Niña do Atlântico”.

Mais importante do que a nomenclatura do fenômeno são as suas consequências. Águas mais frias evaporam menos e, por consequência, deixam o ar mais seco no seu entorno. Isso quer dizer que, persistindo este padrão, o Nordeste, incluindo uma boa parte do Matopiba, terá um período úmido mais fraco que o normal. A conjuntura indica, portanto, uma grande chance de frustração das expectativas, pois, sempre que se fala em La Niña no oceano Pacífico, surge uma expectativa positiva de chuva na região.

Seca no curto prazo

No curto prazo, o Brasil passará por um período de pouca chuva. Mesmo a região Sul, que costuma ter precipitação mais frequente nesta época do ano, terá acumulados baixos até pelo menos o fim do primeiro decêndio de setembro.

O clima mais seco favorece as atividades de manutenção das culturas de inverno nos três Estados, além de incentivar o plantio do milho no Rio Grande do Sul. Um risco que se corre na instalação do cereal, no entanto, é a geada tardia. Sem El Niño ou La Niña, ainda há chance de queda acentuada de temperatura no território gaúcho nas próximas semanas.

Na segunda quinzena de setembro, a chuva aumentará não apenas no Sul, mas também em Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia e Acre. Porém, até o fim do mês, o acumulado não será elevado o suficiente para o início da instalação da soja nos Estados do Centro-Oeste em que o vazio sanitário acabar.

Previsões mais estendidas indicam aumento da chuva no Sudeste e Centro-Oeste na primeira quinzena de outubro, mas a segunda metade deste mês será mais seca e quente. Isso mostra que, independentemente do fenômeno em andamento, é possível ter cenários parecidos em anos diferentes. No ano passado, com El Niño, o plantio também foi lento na primavera devido ao atraso na regularização da precipitação.

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Celso Oliveira, colunista de The AgriBiz, é especialista em clima e tempo da Safira Energia. Atua há mais de 20 anos em previsões climáticas para a agricultura.