Commodities

Com 25% da carteira no agro, Pine aposta em hedge personalizado

Enquanto grandes bancos oferecem estruturas tradicionais, Pine vê oportunidade com estruturas de opções para fixar preço de commodities

Commodities Pine

“O que nossos clientes precisam e que a gente pode fazer de forma única?” Essa foi a pergunta com que Silas Castro, superintendente de mesa e tesouraria do Banco Pine, se deparou quando chegou na instituição financeira, há 14 anos. Ex-Sicredi e Votorantim, o executivo se surpreendeu ao ver que a nova casa buscava a resposta para essa pergunta, no agronegócio, com hedge de commodities.

Para colocar essa estratégia em prática, o banco investiu, de lá para cá, na formação de uma mesa formada principalmente por analistas especializados em commodities, garantindo expertise para fixar preços em diferentes culturas. Hoje, soja, milho, café, açúcar, algodão e boi gordo são objeto de contratos de hedge realizados pelo Pine.

Tamanha expertise rendeu frutos no mercado: dos R$ 12,7 bilhões em valor nocional da carteira de derivativos do banco fundado por Noberto Pinheiro, um quarto está ligado às commodities. É um comportamento que acompanha, numa visão mais ampla, a própria estrutura de crédito do banco. Hoje, 25% da carteira, de R$ 9,6 bilhões, está ligada ao agronegócio.

“Ficamos posicionados entre os três primeiros colocados em rankings da Cetip de volume de operações desse tipo, inicialmente numa estrutura padrão de hedge. Ao mesmo tempo, continuamos vendo espaço para trabalhar em estruturas mais arrojadas”, disse Castro ao The AgriBiz.

No caminho para ampliar a fatia das commodities no bolo total — 53% da carteira de derivativos do Pine ainda está atrelada ao hedge de juros e 24% a moedas —, o banco está investindo em novos escritórios espalhados pelos grandes polos de grãos. Buscando o olho no olho com os agricultores, o Pine abriu recentemente polos de atendimento em cidades como Sinop e Cuiabá (MT), Goiânia (GO) e Luiz Eduardo Magalhães e Barreiras (BA). 

“O produtor ainda precisa de um processo educacional. A próxima geração que está vindo, os netos dos desbravadores, por assim dizer, já têm uma consciência maior. Mas ainda existe o viés de que, se o banco está vindo, vai me dar dor de cabeça”, diz João Theodoro, analista de commodities do Pine.

É um trabalho de longo prazo. Embora o ciclo atual de preços baixos da soja tenha despertado uma curiosidade maior sobre as estruturas de hedge, há um longo caminho a ser percorrido entre o interesse e uma operação efetivamente fechada.

O diferencial

No Pine, o cliente pode ir além da estrutura tradicional de contratos de hedge (que fixa os preços futuros de determinadas commodities numa determinada data) para trabalhar com estruturas apoiadas em opções.

O diferencial está no fato de que o Pine monta estruturas nas quais ele permite que os clientes façam a venda de opções diretamente para o banco — recebendo o prêmio pela venda desses direitos.

Por exemplo: caso um produtor acredite que o preço de uma commodity vá cair ao longo dos próximos meses, ele pode vender uma opção de compra e, caso esse cenário realmente se confirme, a opção vira pó e o produtor fica com o saldo positivo de ter capturado esse prêmio. Na outra ponta, caso o cenário não se confirme, o banco exerce a opção e o produtor tem de arcar com o que a opção prevê. 

O racional de entrar nesse tipo de risco é o de trazer liquidez imediata para o produtor. Em vez de esperar o prazo de um contrato de NDF — tipo de instrumento que fixa o preço da soja em uma data futura — terminar, o produtor consegue gerar dinheiro de forma imediata com a venda das opções, arcando, é claro, com as consequências desses contratos quando eles vencerem.

Hedge personalizado

Para garantir que esses instrumentos serão montados de acordo com a necessidade de cada produtor rural, o banco fixa limites de produção que podem estar sujeitos a esses contratos. Nessa análise, além da mesa, entra a participação também da área de crédito. Juntas, as áreas fazem uma due dilligence de cada cliente antes de ofertar essa estrutura de lançamento de opções. O objetivo é garantir que o produtor tenha robustez financeira para arcar com o exercício dos contratos.

“É um produto para clientes mais arrojados, que entendem do mercado e já operam dentro desse tipo de estrutura”, explica Theodoro.

Antes de terem a oferta desse tipo de estrutura, os clientes são analisados tanto pela mesa quanto pela parte de crédito do banco, que fazem uma due dilligence para identificar se determinado produtor tem fôlego para suportar uma operação como essa. 

O foco está principalmente nos grandes produtores, acima de 10 mil hectares. O limite está nas empresas com um porte muito acima desse, como Coopersucar e Amaggi, que já têm contas no exterior e mais acesso a ferramentas de hedge em outras instituições financeiras, ou até mesmo dentro de casa. 

“São operações liquidadas no Brasil, referenciadas no mercado externo. Nelas, os clientes não precisam mandar dinheiro para fora do País ou se preocupar com ajustes diários, nem com chamada de margem, por exemplo. Ele só precisa fechar a operação e eu faço o spread, num formato muito similar ao que ele faz no spread de dólar, com o qual ele já está mais acostumado”, afirma Castro.