Meteorologia

Da chuva forte para seca e calor: o tempo muda completamente no Sudeste

Chuva ficará concentrada no sul do Brasil e na Argentina nos próximos dias, estancando perdas nas lavouras de soja e de milho

Colheita de soja | Crédito: schutterstock

Um corredor de umidade trouxe chuva forte às regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte nos últimos dias, atrasando a colheita da soja. Mas o cenário deve mudar de forma brusca nos próximos dias. Até meados da semana que vem, espera-se pouca chuva e muito calor em áreas de café, laranja e cana de açúcar de São Paulo e de Minas Gerais, além de regiões produtoras de soja e de milho em Minas Gerais e Goiás.

Em Mato Grosso, principal produtor de grãos, a diminuição da chuva será mais sentida no Vale do Araguaia. Já no oeste do estado, na região do Parecis, a precipitação ainda será intensa. Na região do Matopiba e no nordeste de Mato Grosso do Sul, precisamente na região dos Chapadões, o período será mais seco que o normal.

A chuva ficará mais concentrada no sul. Até o dia 12 de fevereiro, somente o Uruguai e a divisa entre o Paraná e Mato Grosso do Sul receberão mais chuva que o normal. Porém, nos dias seguintes, até aproximadamente 17 de fevereiro, a chuva forte espalhará por todo o centro e norte da Argentina, sul do Paraguai, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Algumas áreas produtoras da Argentina ficarão fora desta área de chuva forte, como as províncias de Buenos Aires, La Pampa e o sul de Córdoba. A precipitação também chegará tarde para áreas que tiveram a instalação de soja e milho de forma mais precoce. Ainda assim, a chuva terá condições de estancar perdas em uma área ampla.

O novo cenário de distribuição de chuva deverá prosseguir até perto do fim de fevereiro. Em março, voltaremos ao padrão dos primeiros dias de 2025: retorno da chuva forte ao Sudeste, Norte, Nordeste e Centro-Oeste e diminuição da precipitação entre a região Sul do Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai.

Não podemos nos esquecer de que estamos sob um fenômeno La Niña. Apesar de fraco, ele “puxa” a chuva mais para a porção norte do Brasil. Portanto, a precipitação que veremos nas próximas semanas entre a Argentina e Brasil será efêmera.

A chuva nos últimos dias

Em apenas dez dias, o acumulado ultrapassou 150 milímetros em áreas de café da Mogiana, em São Paulo, no sul de Minas Gerais. Em áreas de soja de Goiás e Mato Grosso, foram registrados entre 100mm e 150mm, provocando lentidão na colheita.

Em Mato Grosso, a área colhida chegou a quase 15% no dia 2 de fevereiro, ante mais de 30% observado um ano antes, segundo dados da Conab. Apesar do atraso, a produtividade está bem mais elevada que a observada no ano passado, período em que a soja enfrentou estiagem durante boa parte de seu ciclo.

Se por um lado, a chuva é persistente no Sudeste e Centro-Oeste, a região Sul e a Argentina continuam enfrentando estiagem. A área que sofre com o tempo seco começa no sul de Mato Grosso do Sul e avança pelo oeste de toda a região Sul, incluindo o oeste do Paraná, além do Paraguai e da Argentina.

É claro que existem situações diferentes. Olhando somente a umidade do solo, a estiagem é mais tênue entre o sul do Paraguai e o norte da Argentina, além do oeste paranaense. Já a situação é mais crítica em Santa Fé, Chaco, Corrientes, Misiones e o sul de Córdoba, todas províncias na Argentina. No Brasil, as lavouras que mais sofrem estão no Rio Grande do Sul, principalmente no noroeste e na região das Missões.

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Celso Oliveira, colunista de The AgriBiz, é especialista em clima e tempo da Safira Energia. Atua há mais de 20 anos em previsões climáticas para a agricultura.