Um ano e meio depois de ser criada, a Verus (o hedge fund de commodities agrícolas fundado pelo brasileiro Marco Sampaio) vem mostrando que pode mesmo vencer a arrebentação que tira muitos players do jogo. A primeira é a sobrevivência — menos de 10% dos fundos de commodities conseguem passar dos cinco primeiros anos. A segunda é a alta rentabilidade.
Desde a estreia, em janeiro do ano passado, a Verus offshore rendeu aproximadamente 100% sobre o investimento inicial em dólar. O mais surpreendente é que, diferente de outros conhecidos hegde funds do mercado internacional focados no mercado de energia, cerca de 90% do retorno da Verus vem das commodities agrícolas, a especialidade de Sampaio, que fez carreira na JBS e montou a área de gerenciamento de risco global da companhia.
No mesmo período em que a Verus entregou esse retorno (entre janeiro de 2023 e agosto deste ano), os contratos futuros de soja, milho e trigo cerca de 30%, 40% e 20% na Bolsa de Chicago, respectivamente.
Como, então, foi possível entregar um retorno tão atraente? A resposta é o trade relativo. Segundo Sampaio, seu time tem operado muito spreads entre diferentes vencimentos de uma mesma commodity ou spreads entre produtos diferentes, por exemplo.
“A nossa vantagem é nunca querer ser altista ou baixista. Queremos estar certos”, disse Sampaio ao The AgriBiz. “Operamos de forma muito ativa nos mercados que a gente entende, que sabemos que vão flutuar para cima e para baixo. Queremos operar essas flutuações e as relações entre as commodities. Podemos ganhar dinheiro em qualquer tipo de mercado”, afirma.
A Verus opera hoje um book com aproximadamente 30 ativos. Entre 70% e 80% da carteira é formada por commodities agrícolas, do complexo grãos aos futuros de boi gordo e de porco — mercados que Sampaio conhece muito bem pela sua experiência em Greeley (Colorado), onde montou a operação de gerenciamento de riscos da JBS.
“Soja e milho têm dado muita oportunidade para a gente”, diz Sampaio, uma constatação que faria inveja a muito produtor rural no Brasil.
De olho em clientes brasileiros que possam se interessar pelo investimento (até como forma de proteção), Sampaio e João Paulo Fichman, executivo que atua como relações com investidores da Verus, decidiram abrir um veículo local para investimentos, a Verus Brasil.
Cheque mínimo
Os sócios do hedge fund abriram em agosto uma rodada de captação com o objetivo de atingir US$ 25 milhões — mais de 70% já foi levantado. A aplicação inicial mínima é de R$ 100 mil para “democratizar” esse tipo investimento, que raramente chega ao investidor brasileiro, afirma Sampaio. Na Verus, o veículo sediado nos Estados Unidos, que começou com US$ 250 milhões sob gestão e já quase duplicou esse valor, possui um cheque mínimo de US$ 1 milhão.
Os investidores não precisam ser necessariamente ligados ao agro — o veículo, inclusive, tem atraído bastante family offices e o cheque médio tem ficado bem acima do mínimo, entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão. Mas algum conhecimento sobre o setor e, principalmente, apetite ao risco estão entre as características que a Verus busca nessa rodada.
“Queremos investidores que sejam parceiros de longo prazo e entendam o negócio”, afirma Sampaio. Nos Estados Unidos, o fundo tem lock up de um ano, para evitar que investidores menos propensos à volatilidade peçam o resgate no caso de variações de curto prazo.
Para onde vão os preços?
Para Sampaio, que acumulou três décadas de experiência como trader, os preços dos grãos devem continuar enfraquecidos na próxima safra devido à oferta abundante. Depois de uma colheita farta nos Estados Unidos, o Brasil caminha para uma produção de 170 milhões de toneladas de soja — potencial que pode ser confirmado caso as condições de clima sejam favoráveis.
“Em termos de valor relativo, a soja oferece uma vantagem muito grande sobre o milho, então o produtor vai ter que plantar soja. Sem contar que ele é extremamente eficiente da porteira para dentro”, afirma.
No caso do milho, a trajetória de preços no Brasil tende a ser melhor do que nos Estados Unidos devido à crescente demanda do grão para a produção de etanol e do momento favorável no setor de proteína animal, avalia o fundador da Verus.