A área de soja no Brasil é 1,2 milhão de hectares maior do que o projetado pela Conab. A conclusão é da Agroconsult, uma das consultorias mais respeitadas em estimativas de safra, depois de uma alteração em sua metodologia para o cálculo de área plantada.
Com essa relevante disparidade de área, a produção estimada pela Agroconsult para a safra 2023/24 é quase 10 milhões de toneladas maior do que a projetada pela Conab. Enquanto a consultoria de André Pessôa vê a colheita em 156,5 milhões de toneladas, a estimativa mais recente da Conab é de 146,9 milhões de toneladas.
Ao aplicar a mesma metodologia para a safra 2022/23, a Agroconsult chegou a uma produção de 162,4 milhões de toneladas, também bem acima da apontada Conab para a temporada passada, de 154,6 milhões de toneladas.
Somando as duas safras, a produção de soja no Brasil é 17,4 milhões de toneladas maior do que a estimativa oficial. Em português claro, o Brasil tem mais soja do que se imaginava.
Os novos números da Agroconsult — inclusive bastante próximos aos do USDA— jogam luz sobre uma antiga discussão no mercado: a produção brasileira é maior do que a apontada pelos dados oficiais. E essa assimetria de informações explica parte do comportamento dos preços da soja, especialmente na entressafra.
“O comportamento dos preços e dos prêmios no início deste ano indica que tinha mais soja. E não é só a diferença deste ano, mas do anterior também. Estamos falando de um volume muito grande considerando a safra passada e a atual”, disse Pessôa durante coletiva virtual de imprensa para comentar os números do Rally da Safra, nesta quarta-feira.
A nova metodologia
A Agroconsult usou imagens de satélite para refinar o seu levantamento sobre a área plantada, trabalho que já contava com as entrevistas feitas com a rede de contatos da consultoria, acompanhamento do mercado de insumos e as análises de campo. A Serasa, uma das patrocinadoras do Rally da Safra, contribuiu ao dividir informações de sua base de dados com a consultoria.
O novo modelo de avaliação da Agroconsult, que conta com uma ferramenta que interpreta as imagens de diferentes satélites com o uso de algoritmos, é mais moderno do que o da Conab e se aproxima mais do adotado pelas equipes internas de pesquisa das tradings —e muito provavelmente do USDA.
Por isso, Pessôa considera que há uma assimetria relevante de informações de safra no mercado, o que acaba refletindo em comportamentos diferentes dos agentes (compradores e vendedores). Em alguns casos, pode levar a erros de estratégia e análise de riscos.
Essa diferença de informações pode, inclusive, explicar parcialmente o comportamento dos preços no início do ano. “A recuperação da produção de soja na Argentina também influenciou, mas a informação no Brasil estava muito descompassada”, comentou Pessôa.
Só no Centro-Oeste, a Agroconsult estima que a área plantada seja 707 mil hectares maior do que a projetada pelo órgão oficial de pesquisas agropecuárias —quase a área cultivada com soja em todo o Estado de Santa Catarina.
“Vemos um esforço da Conab para melhorar os números. Mas passamos por um período muito significativo de área plantada nos últimos anos, e é muito difícil identificar esses movimentos em regiões de fronteira sem as imagens de satélite”, disse Pessôa.
Produtividade maior
A Agroconsult também ajustou os seus próprios números de área em relação ao levantamento anterior, divulgado em fevereiro, pois a nova metodologia passou a ser aplicada para todos os Estados a partir de março.
O aumento da área, em 753 mil hectares de um mês para o outro, contribuiu para um acréscimo de 2,5 milhões de toneladas no seu novo número de produção. Outras 1,8 milhão de toneladas foram adicionadas devido a um ajuste positivo para a produtividade na média brasileira, agora vista em 56,2 sacos por hectare.
Enquanto Estados importantes, como o Paraná e Mato Grosso do Sul, surpreenderam negativamente, os produtores da Bahia devem conseguir colher 63,8 sacos por hectare, uma queda de apenas 4,8% em relação à temporada anterior.
O Rio Grande do Sul foi o único Estado que apresentou crescimento na produtividade depois de dois anos de quebra de safra. O rendimento médio é estimado em 57,2 sacos por hectare, mas a Agroconsult não descarta surpresas positivas até o final da colheita, que deverá avançar mais rapidamente em abril.