Meteorologia

Frio e chuva atrasam plantio de trigo no Rio Grande do Sul

Área já instalada está menor comparada com o mesmo período de 2023 e com a média dos últimos cinco anos

Lavoura de trigo recém-plantada

O frio chamou a atenção no centro e sul do Brasil nas primeiras semanas do inverno. Na Campanha Gaúcha, o município de Bagé registrou temperatura mais baixa desde 1918 (-5,9°C na terça-feira passada). O frio também alcançou os Estados de Santa Catarina e do Paraná, além de partes das regiões Sudeste e Centro-Oeste, embora não tenha sido intenso a ponto de trazer danos à agricultura.

Neste momento, a corrida é para terminar o plantio do trigo, que está atrasado devido ao excesso de chuvas e elevada umidade do solo. Segundo a Emater, o plantio havia sido finalizado em 82% da área até 11 de julho em todo o Rio Grande do Sul. No ano passado, eram 88% e a média de cinco anos é de 90%.

No município de Cruz Alta, maior produtor do Estado, a instalação feita no segundo decêndio de julho (período atual) aumenta o risco de perdas no trigo em 20%. A partir de 21 de julho, o plantio não é recomendado. Na metade sul do Estado, alguns produtores dos Campos de Cima da Serra pensam em desistir do plantio para não atrasar a instalação da soja mais para o fim do ano. Já na Campanha, a ideia é investir na pecuária.

Para aqueles que ainda estão tentando terminar o plantio, o problema é que a chuva cai frequentemente e a manutenção do frio faz com que o solo se mantenha muito úmido, impedindo a entrada das plantadeiras.

A partir da segunda metade desta semana, por volta do dia 18 de julho, finalmente há previsão de um período mais longo sem chuva. A precipitação mais intensa, com a possibilidade de prejudicar as atividades de campo, retornará por volta de meados de agosto, possivelmente prosseguindo em setembro, de acordo com simulações mais estendidas.

La Niña

A americana NOAA (Administração Nacional Oceânica e Atmosférica) divulgou seu boletim de julho sobre a evolução do fenômeno La Niña. O órgão manteve a formação do fenômeno com chance de 70% de desenvolvimento entre os meses de agosto e outubro e de 79% de chance de alcançar seu ápice entre novembro de 2024 e janeiro de 2025.

Olhando, porém, como vem se comportando a anomalia de temperatura do Pacífico em profundidade, a tendência é de que o resfriamento do oceano seja fraco e com curta duração, talvez em um período menor que o previsto pela NOAA.

E justamente neste contexto, sem o protagonismo do oceano Pacífico equatorial, outros fatores, como a temperatura dos oceanos Atlântico e Índico, serão importantes. O modelo europeu de meteorologia chama a atenção, com chuva acima da média sobre a região Sul em outubro, algo incomum quando há influência de um fenômeno La Niña mais intenso.

***

Celso Oliveira, colunista de The AgriBiz, é especialista em clima e tempo da Safira Energia. Atua há mais de 20 anos em previsões climáticas para a agricultura.