Commodities

O Projeto Cerrado vem aí, mas o ciclo de alta da celulose acabou

Desde junho, os compradores estão mais relutantes em aceitar os aumentos nos preços de celulose

Depois de surpreender analistas e subir mais de 40% na China e bater recorde na Europa, os preços da celulose devem começar a fazer o caminho de volta neste segundo semestre, pressionados pela entrada da nova oferta — a começar pelo Projeto Cerrado, prestes a ser inaugurado pela Suzano.

No primeiro semestre, a sensação de escassez de celulose na Europa ajudou a impulsionar os preços da commodity, especialmente após a explosão de uma fábrica da finlandesa Metsä Group, que paralisou a produção, além de uma greve nos portos da Finlândia. O aumento das exportações à China também deu sustentação às cotações.

Agora, a situação mudou.

Desde junho, os compradores de celulose estão mais relutantes aos aumentos de preços de fibra curta (na casa dos US$ 30 por tonelada). O dólar mais forte, que costuma pressionar as commodities, e a demanda mais fraca por papel completam a reversão do cenário dos primeiros seis meses do ano.

Em um relatório recente, o time da analistas do Itaú BBA trouxe mais elementos para quantificar as pressões, a partir de dados da consultora Hawkings Wright.

O material aponta que, em meio ao excesso de oferta e à demanda mais fraca, fabricantes de papel na China têm vendido celulose no mercado. Isso faz com que os preços de revenda estejam hoje cerca de US$ 100 por tonelada abaixo da celulose importada, que atualmente em torno de US$ 740 a tonelada. Há menos de dois meses, essa diferença era bem menor, de US$ 36, mostrou uma reportagem do Valor Econômico.

Ao mesmo tempo, a demanda por papel segue fraca na Europa por fatores relacionados à sazonalidade, incluindo a temporada de férias. “Os preços do papel subiram em um ritmo modesto durante a primavera, e fabricantes de papel se esforçam agora para repassar o aumento tardio do preço da celulose aos clientes finais no terceiro trimestre”, escreveu o time de analistas liderado por Daniel Sasson.

Daqui para frente, o aumento da oferta não deve parar. A entrada em operação do Projeto Cerrado, da Suzano, vai adicionar ao mercado 2,5 milhões de toneladas e uma nova linha de produção da chinesa Liansheng Paper também vai entrar em operação, adicionando outras 3,9 milhões de toneladas ao ano.

Regressão à média

A inversão na tendência de preços deve trazer a diferença entre custo de produção e de venda da fibra curta para patamares mais próximos das tendências de longo prazo.

Historicamente, a fibra curta (hardwood) tem um custo de produção menor do que o da fibra longa (softwood), haja vista o fato de que uma árvore de eucalipto demora de seis a sete anos para chegar no ponto ótimo de corte (versus 20 anos que um pinheiro nos países nórdicos podem levar).

Por causa disso, a diferença entre o custo de produção e o preço da fibra longa costuma ser maior. Mas, hoje, a diferença entre preço e custo da fibra longa está em US$ 65 por tonelada, enquanto a fibra curta tem uma diferença de US$ 200 por tonelada.

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Na bolsa brasileira, é possível que o impacto do novo momento para os preços da celulose sejam pequenos. O Itaú BBA, por exemplo, já havia precificado a entrada da nova oferta de celulose nas avaliações para Suzano e Klabin.

Enquanto isso, os resultados do segundo trimestre – que serão divulgados em agosto – ainda se beneficiarão dos preços altos da celulose. A mudança de cenário só vai chegar ao balanço a partir do terceiro trimestre.

Nas contas do Itaú BBA, o Ebitda da Suzano deve aumentar 27% no segundo trimestre, em relação aos primeiros três meses do ano. Na Klabin, o salto estimado é de 21%.

A Suzano está avaliada em R$ 68,3 bilhões na B3. No ano, os papéis caem 4.3%. A Klabin acumula uma valorização de 4,3% e está avaliada em R$ 25,4 bilhões.