Preço

Os chineses voltaram, tirando o fôlego da celulose de fibra curta

Retomada de fábricas como Chenming e Nine Dragons vai colaborar para deixar mercado chinês sobreofertado, afirma Fastmarkets

Depois de subir mais de 7% desde o início do ano, emendando três reajustes consecutivos, os preços da celulose de fibra curta perderam fôlego, mudando a dinâmica da commodity para os próximos meses.

Essa é a análise de Patrick Cavanagh, economista sênior da Fastmarkets RISI, uma das agências de preço mais respeitadas no mundo da celulose.

 “Muito do cenário que possibilitou os três aumentos de preços no início do ano esteve relacionado com a redução de oferta na China desde novembro do ano passado. Agora, fábricas como Chenming e Nine Dragons voltaram a produzir”, disse o economista durante um call com investidores realizado pelo BTG Pactual.

A gradual retomada de capacidade deve tornar o mercado chinês sobreofertado, num movimento que deve pressionar os preços da celulose.

“No limite, o aumento da oferta pode provocar uma redução nos preços a partir de maio”, completou Rafael Barisauskas, economista da Fastmarkets RISI para América Latina e professor na FECAP.

Além do aumento de oferta, uma outra preocupação ocupa um papel central na formação de preços da celulose: o crescimento da China. Cavanagh destacou que, ao longo dos últimos dias, o sentimento no país asiático tem sido mais pessimista, levantando dúvidas a respeito de a região atingir a meta de crescimento de 5% do PIB neste ano.

“Por outro lado, qualquer subsídio ao consumidor, introduzido pelo governo chinês, pode ajudar a melhorar as perspectivas na região”, ponderou o economista.

O peso da China no comércio global de celulose é incontestável — em 2024, 40% da demanda global, de 71 milhões de toneladas, esteve concentrada por lá. Portanto, entender o que vai se desempenhar no país tem um peso relevante no comércio global da commodity.

Ao mesmo tempo, a indústria de celulose espera ter mais clareza a respeito dos impactos das políticas de Donald Trump nos Estados Unidos, como ressaltou Beto Abreu, CFO da Suzano, em evento realizado pelo Bradesco BBI.

“Uma primeira preocupação para nós e para a cadeia é com a recessão. Durante a guerra tarifária de 2017-18, a economia global arrefeceu 0,7%. Quando olhamos para esse ano, pode arrefecer 1 ponto percentual, tirando demanda de muitos mercados”, afirmou o executivo.

Esse compasso de espera, segundo Abreu, tem afetado grandes produtores de fibra curta no Brasil, Chile e Uruguai, que aguardam mais clareza a respeito do impacto das tarifas sobre clientes chineses e europeus.

“No curtíssimo prazo, é normal que haja desaceleração nas negociações. Está todo mundo, cada um do seu lado da mesa, esperando o que vai acontecer. É um jogo de xadrez com vários jogadores diferentes”, afirmou.

***

Para o BTG Pactual, a oportunidade de explorar o mercado de celulose se mantém, tendo em vista que o preço atual (perto de US$ 600 por tonelada) ainda está acima do piso que compensa o custo de empresas como a Suzano — em torno de US$ 550 por tonelada. Além disso, a empresa apresenta um valuation atrativo, negociada a 4,7 vezes Ebitda.

“É importante lembrar que o Brasil é um dos mais competitivos fabricantes de celulose do mundo, e mesmo em um contexto de preços em queda no mercado externo, nós ainda conseguimos auferir muita receita e lucratividade devido aos baixos custos”, frisa Barisauskas, da Fastmarkets RISI.

A ação também é uma das preferidas do UBS, que iniciou a cobertura do setor de celulose recentemente. Na visão da equipe de analistas chefiada por Caio Greiner, é um momento interessante para montar posição no papel: baixa do ciclo, fim de um ciclo de investimentos em capital, aumento de Ebitda e aumento de fluxo de caixa.

Para além dos fatores de curtíssimo prazo, os analistas Leonardo Correa e Marcelo Arazi, do BTG, lembram que o balanço de oferta e demanda tende a ficar mais apertado em 2026 e 2027. Caso se comprove, essa situação pode abrir espaço para aumentos de preços por parte das maiores fabricantes do setor.