A abundância mundial de soja ainda deve piorar por mais uma safra antes de iniciar o ajuste de oferta necessário para equalizar a margem dos agricultores e, consequentemente, dos diversos elos da cadeia produtiva.
É com essa leitura que a SLC, maior produtora de grãos do Brasil, vem se planejando para o futuro. Com mais de 320 mil hectares plantados com soja na última safra, a companhia da família Logemann está convicta de que os preços baixos da commodity vão continuar na safra 2024/25, que começa a ser semeada daqui a um mês.
“Tudo indica continuidade de preços baixos, até inferiores à safra passada”, afirmou Aurélio Pavinato, CEO da SLC, durante uma teleconferência com investidores nesta quinta-feira.
Salvo alguma surpresa climática, algo que não está no radar neste momento, o excedente global de soja vai aumentar na safra 2024/25, mantendo os contratos futuros na bolsa de Chicago sob pressão.
Neste momento, a alta produtividade da safra americana — que começa a ser colhida em setembro — vem pesando sobre os preços. Na última segunda-feira, o USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) atualizou as estimativas, aumentando a expectativa para o estoque de soja no fim da safra 2024/25.
Nas projeções do órgão americano, o estoque mundial de soja deve alcançar 134,3 milhões de toneladas, o que representa 33% do consumo total — estimado em 402,8 milhões de toneladas. Em agosto, o órgão previa um estoque final menor, de 127 milhões de toneladas.
Quando se compara a relação entre estoque e demanda total com os dados da safra passada (2023/24), é possível entender porque os preços estão sob pressão no mercado internacional. Na temporada passada, o estoque representava 29% do consumo. Ou seja, a gordura de oferta aumentou.
Para os agricultores no Brasil, o prêmio nos portos e o câmbio têm evitado um aperto ainda maior nas margens, preservando os preços em reais estáveis mesmo depois da queda intensa da oleaginosa no mercado internacional nos últimos meses.
Durante uma apresentação a analistas pela manhã, Pavinato ilustrou a situação com um gráfico. Nos últimos quatro meses, o preço da soja na bolsa de Chicago caiu enquanto a saca da soja no Brasil subiu 2,8%. Nesse período, o prêmio no porto de Paranaguá saiu de praticamente zero para US$ 1,26 por bushel.
Com mais soja colhida durante a safra 2024/25, as margens dos produtores de soja em todo o mundo vai ficar mais apertada. Nesse cenário, é razoável supor que a área plantada com a oleaginosa vai cair no mundo, e especialmente nos Estados Unidos, na safra 2025/26.
“Tudo indica que no próximo ciclo teremos um ajuste de área plantada a nível mundial para ajustar a oferta e equilibrar os preços no mercado internacional”, analisou Pavinato.
Nos Estados Unidos, lembrou o CEO da SLC, há um instrumento para remunerar o agricultor quando os preços dos grãos estão baixos sem que ele precise plantar a cultura. “Ele não planta e recebe a receita”. Esse incentivo deve ajudar a enxugar a oferta de soja na safra americana que será colhida em 2025.
No curto prazo, não há muito o que fazer. Globalmente, a soja é a única das grandes culturas agrícolas que sofre com um desbalanceamento grande entre oferta e demanda, disse Pavinato.
“Das quatro grandes culturas — milho, arroz, trigo e soja —, três estão com oferta e demanda balanceada. Só na soja que está sobrando estoque de forma expressiva”, resumiu.
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Listada na B3, as ações da SLC caíram 2,5% nesta quinta-feira na esteira dos resultados do segundo trimestre, divulgados ontem. A companhia da família Logemann amargou os efeitos do El Niño sobre rendimento da soja da safra passada. Em um ano, as ações da SLC caíram 11%. A companhia está avaliada em R$ 7,8 bilhões.