Enquanto as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte receberam chuva intensa entre o Natal e a primeira semana de janeiro, a seca no Sul do Brasil tem preocupado produtores de soja e de milho.
No Rio Grande do Sul, a última chuva abrangente ocorreu na primeira semana de dezembro, enquanto o Paraná e Santa Catarina receberam a última grande precipitação na segunda semana do mês passado. Já existem relatos de perda de produtividade em áreas não irrigadas de soja e de milho nos três estados devido à seca.
A única cultura que se desenvolve bem no sul é o arroz, que justamente exige maior radiação solar nesta época do ano.
Nossos vizinhos argentinos também sentem os efeitos da seca. Segundo a Bolsa de Cereais de Buenos Aires, praticamente um terço das áreas de soja está em estágio reprodutivo, momento em que há maior exigência hídrica. Nos últimos dias, o clima adverso na Argentina chegou, inclusive, a influenciar os preços da soja em Chicago.
O mais preocupante é que, tanto para a Argentina como para a região Sul, a “gangorra” da chuva permanecerá sobre o centro e norte do Brasil pelos próximos dez dias.
A formação de um sistema chamado Zona de Convergência do Atlântico Sul trará grandes acumulados para a metade norte do País. Não surpreenderão volumes em torno dos 200 milímetros no sul da Bahia nos próximos dez dias. No norte do Espírito Santo, de Minas Gerais e de Goiás, o acumulado pode ultrapassar 350mm em 15 dias, assim como no sul de Tocantins e no leste de Mato Grosso (Vale do Araguaia).
A colheita da soja já começou no território mato-grossense, mas tudo leva a crer que ela avance muito lentamente até pelo menos a terceira semana de janeiro. A área de soja do centro e norte do Brasil terá maiores janelas para a colheita apenas nos últimos dias do mês, quando também haverá condições para o plantio da safrinha de milho.
Alívio na segunda quinzena
Previsões mais estendidas indicam que parte da chuva migrará para a Argentina e para a região Sul do Brasil a partir de 17 de janeiro, sendo frequente e acima da média até os últimos dias deste mês. Isso indica que não acontecerá uma quebra extrema de safra como em anos anteriores, mas o resfriamento do oceano Pacífico conseguirá “roubar” algumas sacas de soja e de milho.
Por falar em Pacífico, o fenômeno La Niña manifestou-se no apagar das luzes. Em parte, o atual cenário de estiagem no Sul e na Argentina é fruto do resfriamento das águas da parte equatorial do oceano.
Tudo indica, porém, que o La Niña será fraco e com curta duração. Tanto que em fevereiro, por exemplo, a Argentina e o Sul do Brasil terão excesso de chuva, enquanto o Matopiba receberá menos precipitação que o normal, situação que não combina com o fenômeno climático.
Um último ponto que precisaremos monitorar será a chuva do outono. Como é possível que ocorra um atraso do plantio da segunda safra de milho pelo atual período chuvoso no centro e norte do Brasil, a precipitação do outono será primordial para o desenvolvimento da safrinha.
A simulação europeia indica chuva abaixo da média em boa parte do País em abril. A tendência, portanto, é que o período úmido não se estenda muito além do normal.