RIBEIRÃO PRETO (SP) — Que o Brasil possui uma área gigantesca de pastagens degradadas, ninguém duvida. Mas quais terras possuem potencial de bons retornos econômicos para a conversão em agricultura e em quanto tempo essa área disponível pode se esgotar?
Em um amplo estudo, a S&P fez as contas. Os dados, disponíveis em um relatório de 317 páginas, foram apresentados pelo agrônomo Marcelo Claudino, consultor da área de commodities da Standard & Poors, no 051 Agro Day, um evento para investidores organizado pela 051 Capital, gestora e multifamily office de Luciano Brochmann.
A julgar pelo cenário traçado pelo consultor, investidores e grandes grupos agrícolas terão de correr se quiserem capturar as melhores oportunidades no mercado de terras. O prazo é curto e o Brasil, uma das últimas fronteiras agrícolas do planeta.
Se a área plantada com soja continuar crescendo 4,2% ano, média registrada na última década, as melhores áreas de pastagens se esgotarão em apenas 14 anos, disse Claudino.
Para quem busca retornos típicos de private equity com a segurança de um ativo real como a terra, como Bernardo Reis — head da área de agro da 051 — gosta de enfatizar, o tempo de execução será fundamental. Quem chegar atrasado pode perder os retornos impressionantes do mercado de terras.
Nos últimos 15 anos, as terras em Rondonópolis (MT), um importante polo agrícola, renderam 369% em termos reais, contra apenas 70% do CDI e um retorno real negativo do Ibovespa, mostrou o consultor da S&P. Em Balsas, no Maranhão, o retorno real foi ainda maior, multiplicando o capital em mais de seis vezes.
As melhores áreas
Pelos cálculos da S&P, as melhores áreas de pastagens para conversão para o cultivo de grãos somam 33 milhões de hectares, o que é um volume expressivo considerando a atual área plantada. Pelas estimativas da Conab, o Brasil deve cultivar 45 milhões de hectares nesta safra. Nesse cenário, ainda é possível crescer 73%.
Para chegar aos 33 milhões de hectares que podem ser convertidas em “áreas de cultivo de primeira linha”, a consultoria cruzou mapas de pastagens, riscos climáticos e o tamanho das áreas contínuas, uma métrica fundamental para os grandes grupos.
“Entrevistas com especialistas em terras e agentes imobiliários revelaram que, além de clima, solo e topografia adequados, grandes grupos buscam as maiores áreas contínuas de pastagens disponíveis”, mostrou a apresentação feita por Claudino em Ribeirão Preto.
Um exemplo dos resultados trazidos nos cruzamentos feitos pela S&P é o município de Paraíso do Tocantins. Lá, as pastagens somam 54,8 mil hectares, mas as áreas contínuas mais propícias, em polígonos acima de 250 hectares, são de apenas 8,2 mil hectares. Para todos os efeitos, é essa a área apta para a agricultura de grande escala, o tipo de investimento que faz sentido para fundos e grupos agrícolas.
Ao fazer os cálculos, a S&P analisou 311 microrregiões de pastagens e encontrou as 60 melhores (os 33 milhões de hectares), criando o Índice de Oportunidade de Terras. Metade dessa área está na região Centro-Oeste, e 38% no Matopiba, a confluência entre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
Os números da S&P para as melhores áreas são um pouco menores do que os 40 milhões de pastagens que o Ministério da Agricultura almeja recuperar com um plano que prevê financiamento do Banco do Brasil e BNDES.
Um dos grandes temas da agenda do ministro Carlos Fávaro na COP-28, que está ocorrendo em Dubai, para tentar atrair investidores estrangeiros, o plano de recuperação de pastagens se baseia em dados da Embrapa.
A estatal de pesquisa considera que há 58 milhões de hectares em boas condições de cultivo, mas é possível que nem todas tenham boa aptidão para os grandes investidores.
Nas projeções do governo brasileiro, o plano de pastagens demandaria investimentos de US$ 120 bilhões. Ao todo, o Brasil tem 160 milhões de hectares de pastagens.
Preços das terras
Durante a apresentação, o consultor da S&P também apresentou dados sobre os preços de terras, que já começam a refletir o cenário mais difícil após a forte queda das cotações dos grãos.
Segundo a S&P, os preços estão altos considerando a conjuntura das commodities. No terceiro trimestre, o preço médio das terras com grãos ficou em R$ 54,8 mil por hectare, praticamente estável.
Não à toa, o mercado perdeu liquidez neste ano. O que talvez provoque um rearranjo é a necessidade de alguns agricultores buscarem alternativas de capitalização para lidar com as dívidas, o que pode atrair oportunidades para gestores como Riza e a própria 051.
*O jornalista viajou a convite da 051 Capital