Gestora

Entre silos e biológicos: na 10b, o retorno bate 40% ao ano

Gestora da Tarpon investe de companhias listadas em bolsa, como Kepler Weber, até negócios nascentes como a Rúmina. Agora, prepara novo fundo para multiplicar de tamanho

Marcelo Lima tinha acabado de chegar de um almoço com o sócio Zeca Magalhães e os empresários Horácio Lafer Piva e Fabio Hering, dois amigos de longa data da Tarpon. Com a cabeça fervilhando de ideias, o gestor saiu da conversa com a sensação de que poucas vezes viveu um momento tão bom quanto o atual.

Sob um olhar retrospectivo, o sentimento não deveria surpreender. Há exatos quatro anos, Lima criava a gestora 10b — vertical da Tarpon dedicada a uma tese de investimentos fortemente ligada ao agro e ao mundo dos alimentos — e ainda precisava provar a tese.

Àquela altura, a própria Tarpon passava por um reposicionamento, depois do fechamento de capital e do baque da BRF. Mas de lá para cá, os resultados falam por si.

Desde que foi criada, a 10b trouxe um retorno de 41% ao ano, mais do que validando a tese — em mais uma demonstração das oportunidades que o campo oferece à Faria Lima —, preparando o terreno para um novo fundo. Na Tarpon como um todo, o retorno está em 20% ao ano depois de mais de duas décadas da fundação da gestora, em 2002.

Atualmente, a 10b tem cerca de R$ 800 milhões sob gestão (um terço é capital dos sócios) e pode multiplicar de tamanho com o novo fundo, que ainda está em fase inicial de conversa com investidores brasileiros e estrangeiros para captação.

Vento a favor

Para se ter uma ideia do retorno, os investidores que apoiaram a 10b na compra de uma participação relevante na Kepler Weber, no fim de 2019, já viram o capital mais do que retornar — e a gestora ainda possui quase 9% da fabricante de silos agrícolas. Desde então, a Kepler se converteu em uma boa pagadora de dividendos e multiplicou o valor de mercado por 2,5 vezes.

Na escolha de ativos que compõem o portfólio, a 10B decidiu concentrar as apostas naquilo que considera ser o seu melhor. “O que aprendemos nesses 21 anos de Tarpon? A gente é bom de investir em coisas que têm vento a favor. E não tem vento a favor maior do que ativos que olhem para o desafio climático e o combate à fome”, resumiu Lima em uma conversa com The Agribiz.

O nome da gestora, aliás, é uma alusão ao desafio que o mundo precisa lidar para alimentar — de forma sustentável — uma população de 10 bilhões de pessoas em 2050.

Silos de Kepler Weber
Desde que a 10b adquiriu uma fatia relevante na Kepler Weber, no fim de 2019, valor de mercado da fabricante de silos aumentou 2,5 vezes

Na Kepler Weber, o investimento bem-sucedido da 10b olhava para o crônico déficit de armazenagem de grãos no país, um problema que contribui para o desperdício de alimentos.

Mas o estilo da 10b — e da própria Tarpon, no fim das contas — não restringe as apostas a companhias listadas. Pelo contrário.

Nos biológicos, um expoente

Na gestora, há espaço para a criação de negócios praticamente do zero, como foi a Rúmina (uma plataforma de tecnologia voltada à pecuária leiteira), passando por investimentos minoritários em startups como Seedz até negócios mais ao estilo de private equity, comprando o controle de companhias promissoras.

Nesta última frente, está aquele que pode se tornar um dos maiores retornos da indústria de insumos biológicos, a Agrivalle. A 10b adquiriu o controle da companhia em 2019, quando investiu R$ 160 milhões.

Sediada em Indaiatuba, a Agrivalle é um dos expoentes desse mercado, um negócio que ganhou ainda mais holofotes após a venda da Biotrop, por R$ 2,8 bilhões.

“Quanto mais a Agrivalle crescer, mais retorno a gente dá. Quanto mais retorno a gente dá, mais regenera o solo. Quanto mais regenera o solo, mais sequestra carbono. É essa a coerência da estratégia da 10b. Retorno muito alto com a agenda climática”, diz Lima.

Para ele, a Agrivalle ainda tem alguns anos para crescer e gerar valor antes de uma venda — a menos que um investidor estratégico precifique o crescimento que vem pela frente numa eventual oferta, o que nunca pode ser descartado numa indústria tão agitada.

Investindo em parceria

Nas abordagens de investimentos, a 10b pode entrar sozinha ou com investidores parceiros. Na Rúmina, por exemplo, a tese da plataforma foi idealizada dentro de casa, reunindo três startups (OnFarm, Ideagri e Volutech) ao mesmo tempo em que a gestora atraiu o capital de duas firmas de venture capital (a Barn, gestora de Flávio Zaclis, e a Indicator) para avançar com serviços financeiros, o RúmiCash.

Em outros ativos, como a Rehagro — uma escola de educação voltada para o agro — a 10b fez um investimento ao lado da GK, a gestora de impacto de Eduardo Mufarej. Na Seedz, agtech fundada por Matheus Ganem, a gestora se tornou sócia de uma startup que já tinha investidores como The Yield Lab e Volpe.