As condições meteorológicas do Brasil nos últimos dias chamaram a atenção de todos. Primeiro, pela formação de um bloqueio atmosférico e calor extremo no centro e norte do país com temperaturas máximas de até 43,5°C em São Romão, no Cerrado de Minas Gerais. Depois, pelo aparecimento da chuva e queda brusca de temperatura em alguns pontos do sudeste e centro-oeste.
Na coluna anterior, comentei que parte do calor excessivo poderia ser creditado ao El Niño, fenômeno que é caracterizado pelo aumento da temperatura da água do oceano Pacífico equatorial central. Mas não temos apenas esse protagonista. Praticamente todos os oceanos do globo estão mais quentes que o normal e contribuem para o aumento da temperatura atmosférica.
Nada impede a ocorrência de novos aumentos bruscos de temperatura. Simulações atmosféricas indicam que a chuva na forma de pancada que vem caindo sobre partes do sudeste e centro-oeste deverá enfraquecer no decorrer da segunda quinzena de outubro e dar lugar a um novo período com calor bem acima da média histórica.
Há uma preocupação com culturas perenes. A laranja, por exemplo, pode sofrer com frutos mais leves, além de queda de chumbinho. No café, parte das floradas recém-abertas podem se perder com o calor excessivo.
Plantio lento da soja
Partindo para grãos, o plantio da soja em Mato Grosso alcançou pouco mais de 14% da área total na semana passada, de acordo com boletim do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Aplicada) divulgado em 6 de outubro. A chuva dos últimos dias até aumentou a umidade do solo, sobretudo na região do Parecis. Mas a tendência é de que o tempo fique mais seco e muito quente na segunda quinzena de outubro, fazendo com que o plantio não avance no mesmo ritmo de 2022.
Se a chuva não alcança nem o sudeste e centro-oeste, imagine no Matopiba. Por enquanto, não há expectativa de precipitação suficiente para iniciar o plantio após o término das janelas fitossanitárias no norte e nordeste.
Estragos no sul
No sul, a chuvarada no Rio Grande do Sul e o calor excessivo no Paraná em setembro causaram estrago. O Deral (Departamento de Ecomomia Rural) reduziu a estimativa de produtividade do trigo no Paraná e diminuiu a safra em dez pontos percentuais por conta de doenças fúngicas que tomaram conta das lavouras pelo calor excessivo.
No Rio Grande do Sul, a Emater também alerta que o trigo sofre com doenças pela elevada umidade. A colheita começou recentemente em ritmo lento. O milho do Rio Grande do Sul também sente os efeitos da falta de luminosidade em alguns municípios.
E nada indica que a situação irá mudar muito nas próximas semanas. A única diferença em relação a setembro é que Santa Catarina e Paraná também serão afetados por chuvas muito intensas. Até meados de outubro, municípios dos três estados da região sul deverão receber mais de 300mm de chuva, correspondendo ao dobro do normal para todo o mês.
Com isso, as atividades de plantio, colheita e manutenção de culturas avançarão mais lentamente. A maior preocupação é com as culturas de inverno, que são mais sensíveis aos efeitos do fenômeno El Niño.