Após uma longa sequência de chuva forte no Rio Grande do Sul e calor na maior parte do Brasil, um bloqueio atmosférico será rompido, permitindo o avanço de uma frente fria pelo centro e sul do País no próximo final de semana. Esse sistema terá condições de quebrar uma sequência de 45 dias de estiagem em partes das regiões Sudeste e Centro-Oeste, com destaque para o Estado de São Paulo.
Boa parte da área produtora de cana de açúcar receberá acumulados entre 25 e 50 milímetros entre o domingo e a segunda-feira. Ou seja, alguns municípios receberão em dois dias o normal para todo o mês de maio (no caso, 50 mm).
Para as usinas, a chuva irá paralisar a colheita e diminuir a quantidade de açúcar na cana, o Açúcar Total Recuperável (ATR). Por outro lado, essa precipitação será muito bem-vinda para áreas que ainda estão em desenvolvimento e serão colhidas mais à frente.
A região de café da Mogiana e do sul de Minas Gerais também será atingida pela chuva. Nesse caso, produtores precisarão ter cuidado com a secagem do grão ao ar livre. Além disso, por conta do grande contraste térmico, a chuva virá acompanhada de rajadas de vento que poderão derrubar grãos maduros dos cafezais.
Nos Chapadões, divisa entre Mato Grosso do Sul e Goiás, a preocupação dos produtores é com uma eventual piora da qualidade das plumas de algodão. Alguns talhões estão prontos para a desfolha e posterior colheita.
Já para a segunda safra de milho, a chuva será benéfica para o Paraná e Mato Grosso do Sul —no caso das áreas instaladas mais tardiamente, ainda em floração e enchimento de grãos. No maior Estado produtor, Mato Grosso, a chuva não virá com quantidade suficiente para mudar as condições agrícolas.
Menos chuva no Rio Grande do Sul
Além da volta da chuva, a frente fria derrubará a temperatura desde o Acre até o Rio Grande do Sul no final de semana. As menores temperaturas serão observadas nas áreas mais elevadas do Paraná, nos Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.
As mínimas se aproximarão de 0°C com formação de geadas em vários municípios no domingo. Neste momento, a queda acentuada de temperatura não traz danos às lavouras. O maior problema foi o dilúvio das últimas semanas, que chegou a acumular mais de 900mm em alguns municípios, como Caxias do Sul (RS), segundo o Cemaden.
Importante salientar que a partir de agora, a “porteira abriu” e as próximas frentes frias conseguirão avançar livremente pelo Brasil em junho. Isso quer dizer que não choverá na mesma frequência e intensidade sobre o Rio Grande do Sul, diminuindo o nível de corpos d’água e facilitando o início do plantio das culturas de inverno.
Até poucas semanas atrás, produtores ainda pensavam se valia a pena plantar trigo por conta dos preços baixos. Inclusive o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Esalq/USP) trabalha com a hipótese de redução de área. Porém, com a possível quebra de produtividade na região do Mar Negro por conta de geadas tardias e a consequente reação dos preços, existe a possibilidade de alguma mudança na intenção dos produtores.
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Celso Oliveira, colunista de The AgriBiz, é especialista em clima e tempo da Safira Energia. Atua há mais de 20 anos em previsões climáticas para a agricultura.