Uma visita aos principais polos produtivos do agronegócio brasileiro ou uma conversa com os produtores rurais do país já demonstram que questões que outrora eram relegadas ao segundo ou terceiro plano do rol de prioridades agora são assuntos considerados cruciais para o desenvolvimento e perenidade dos negócios rurais.
A definição do processo sucessório, a estruturação da operação, a captação de novos clientes, a definição das estratégias para as safras adiante, tudo isso é pauta das reuniões envolvendo produtores rurais, grupos familiares e agroindústrias Brasil afora. Em outras palavras, a boa governança é fundamental.
Mas como a governança pode gerar maior valor no campo?
De variadas formas. Ponto inicial: boas práticas de governança reduzem o custo de capital do produtor rural e das agroindústrias. Em um cenário em que os financiadores cada vez mais se preocupam com as causas ESG e, também, com questões reputacionais, a régua para fornecimento de capital passou a considerar o quesito qualidade do tomador.
A boa governança faz exatamente isso: proporciona gestão, controles, processos e normas, gerando maior qualidade ao score do tomador. Nesse cenário, há abertura para juros menores e condições mais favoráveis de pagamento, gerando valor ao produtor e, consequentemente, aos demais integrantes da cadeia produtiva.
O produtor — e considere o termo “produtor” no sentido mais amplo — que adota mecanismos de controle, mensuração e gestão, sai na frente da concorrência e abre novos flancos de negócios e de investimentos. O ciclo se torna virtuoso.
Em um mercado amplo, com pouca diferenciação no que cabe em relação à mercadoria (commodities são commodities em qualquer lugar do mundo), são os detalhes que fazem toda a diferença no fechamento de um negócio e na aquisição e fidelização de clientes.
Também é preciso falar de diversidade. As boas práticas de governança que fomentem a abertura para o novo no ambiente de decisões no campo — a diversidade de gênero, geracional, sexual, de formações, etc. — enriquece o ambiente de produção e confere maior visão estratégica para a tomada de melhores decisões pelo produtor rural, pelas agroindústrias e pelos grupos familiares do campo. Um ambiente plural gera ganhos, muitas vezes difíceis de mensurar em um primeiro momento, que acabam por fortalecer e perenizar o agronegócio face aos desafios cada vez mais complexos da sociedade atual e, tudo indica, futura.
Esses pontos, por mais subjetivos e complexos que possam parecer, já estão no radar de parcela relevante dos vanguardistas produtores rurais brasileiros, principalmente os de médio e grande portes.
Agora, um dos grandes desafios é levar e aplicar os conceitos da boa governança também aos pequenos produtores, que muito teriam a ganhar, não apenas financeiramente como, também, do ponto de vista de crescimento e perpetuação dos negócios ao longo das gerações. Ainda há um longo caminho pela frente, mas o processo é prazeroso e as primeiras sementes já estão sendo plantadas.
A realidade de maior exigência imposta pelo mercado gera desenvolvimento sustentável nas cadeias produtivas agroindustriais. Alguns importantes temas já estão na mesa, como rastreabilidade da produção, redução de emissão de gases, geração de energia verde, maior diversidade em cargos de liderança, gestão e de conselho, dentre outros aspectos. Ainda há muito a ser feito, mas aqui, também, as primeiras sementes já estão sendo plantadas e regadas. Em alguns casos, as árvores já estão tomando forma.
Novos acordos comerciais e exigências cada vez maiores dos mercados desenvolvidos também estão fomentando o desenvolvimento de alguns segmentos do agronegócio nacional.
O que é tratado por alguns como um risco pode, talvez, ser uma grande oportunidade de melhoria e desenvolvimento para o competente setor do agronegócio brasileiro, que tantas vezes já se reinventou e tantos desafios já superou para se tornar hoje uma referência mundial.