Balanço

Hedge cambial gera R$ 1,1 bi e garante resultado da Minerva

Companhia dos Vilela de Queiroz vem conseguindo reduzir a dependência da China nas exportações, ampliando as vendas para Oriente Médio e Estados Unidos

A política de hedge cambial da Minerva Foods mostrou sua força outra vez. Mesmo com os efeitos da disparada do dólar sobre o endividamento em moeda estrangeira, a companhia da família Vilela de Queiroz conseguiu gerar caixa no segundo trimestre, preservando as métricas de alavancagem e fechando o período no azul.

Em entrevista ao The AgriBiz, o diretor financeiro, Edison Ticle, comemorou os resultados positivos, um trunfo da política de hedge construída há muitos anos pelo executivo, que sempre contestou a tese do hedge natural. Nos momentos de stress cambial no País, Ticle pode colher os frutos de sua escolha.

“Apesar do impacto de mais de R$ 1 bilhão de variação cambial, o hedge neutralizou essa despesa no balanço e gerou caixa no segundo trimestre”, disse Edinho, como o diretor financeiro é mais conhecido na Faria Lima.

De abril a junho, a Minerva registrou um lucro líquido de R$ 95,4 milhões. O montante representa uma queda de 21% sobre os resultados do mesmo período do ano passado, mas veio bem acima do que os analistas projetavam. BTG Pactual e XP, por exemplo, esperavam um prejuízo de R$ 259 milhões e R$ 76 milhões, respectivamente.

A política de hedge cambial explica, em boa parte, a surpresa positiva. No trimestre, a Minerva registrou um fluxo de caixa livre de R$ 404 milhões, o que só foi possível graças ao efeito positivo de R$ 1,1 bilhão, sendo R$ 800 milhões em caixa, representado pelo hedge cambial.

Com isso, nem mesmo o maior consumo de capital de giro derrubou o resultado. De abril a junho, a conta aumentou em R$ 700 milhões, um reflexo da valorização do dólar sobre os recebíveis de exportação e do aumento do volume de vendas. No trimestre, o volume de vendas da Minerva cresceu 15,5%.

A geração de caixa também garantiu a preservação do índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda), mesmo com a conta de juros mais alta que a Minerva vem arcando desde que levantou R$ 7,5 bilhões em dívidas para arcar com a aquisição de frigoríficos da Marfrig. (O M&A ainda aguarda o aval do Cade. Na entrevista, Edinho optou pelo conservadorismo e disse que a expectativa é aprovar o deal no quarto trimestre).

“Tem uma despesa relacionada ao carregamento dessa dívida, que dá mais ou menos R$ 70 milhões por mês”, explicou Ticle. Em 30 de junho, o índice de alavancagem reportado pela Minerva ficou em 2,98 vezes, estável. Quando se considera na conta o adiantamento de R$ 1,5 bilhão que a companhia já fez à Marfrig, a alavancagem ficou estável em 3,54 vezes.

Menos China, mais EUA

No lado operacional, a Minerva vem conseguindo reduzir a dependência das exportações para a China, onde os preços da carne estão menos apetitosos. Desde o fim do ano passado, as exportações para Estados Unidos e Oriente Médio vêm ganhando força.

Para uma companhia que faz 60% do faturamento nas exportações, a escolha dos destinos mais rentáveis é crucial — muitos analistas chegaram a demonstrar preocupação com a fraqueza do mercado chinês.

“A demanda externa vem acelerando, principalmente no Oriente Médio e nos países do Nafta. As exportações para os Estados Unidos têm um bom desempenho e vemos uma grande oportunidade para o México, que abriu seu mercado e ainda está começando”, acrescentou Edinho.

Para se ter ideia da transformação no destino das exportações da Minerva, a participação da Ásia caiu de 46% nos doze meses encerrados em junho do ano passado para 33% no ano-móvel concluído em 31 de junho de 2024. Em compensação, a fatia do Oriente Médio pulou de 8% para 11% e o Nafta, de 8% para 15%.

Ao todo, a receita da Minerva com exportações ficou em R$ 5 bilhões, queda de 1,9% na comparação anual, um efeito dos preços deprimidos da carne no exterior.

No mercado doméstico, onde o Brasil é de longe o principal mercado, a receita bruta da Minerva saltou 19% no segundo trimestre, chegando a R$ 3,1 bilhões, demonstrando que a massa salarial segue ajudando o consumo no País.

Com isso, a receita líquida da companhia como um todo ficou em R$ 8,1 bilhões, incremento de 5,2%. O Ebitda cresceu 4,7%, com margem de 9,7%, ligeiramente abaixo dos 9,8% do ano anterior.

Ciclo da pecuária

De modo geral, os preços baixos do boi gordo vêm ajudando a indústria frigorífica a ganhar margem. No trimestre, a Minerva conseguiu melhorar a margem bruta mesmo apesar dos preços da carne. De abril a junho, a margem bruta foi de 21,7%, 0,9 ponto superior ao mesmo período do ano passado.

Para muitos analistas, o trunfo da ampla oferta de boi gordo no Brasil deveria ser uma fonte de preocupação para a Minerva, já que muitos projetavam a virada do ciclo — com o início da retenção de vacas e o consequente aumento do preço do boi — já em 2025.

Na Minerva, a leitura é diferente. Para Edinho, os ganhos de produtividade vivenciados pela pecuária brasileira nos últimos anos provocaram uma mudança estrutural que alargou o ciclo da pecuária e vai tornar a oferta de gado pronto para o abate maior, seja na fase de baixa do ciclo ou na fase de alta.

Neste momento, a Minerva acredita que 2025 vai ser mais um ano de ciclo positivo para a indústria frigorífica, com a virada ocorrendo só depois disso.

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Listada na B3, a Minerva está avaliada em R$ 3,8 bilhões. Em um ano, os papéis caem 38%, pressionado pela preocupação dos investidores com o preço pago e a demora na aprovação da aquisição dos ativos da Marfrig.