Safra 2023/24

Indústrias e revendas veem gargalo logístico para entrega de insumos

Demora do agricultor ao definir suas compras pode afetar as entregas de defensivos e fertilizantes, alertam executivos de Lavoro e Vittia

Depois de lidar com estoques elevados e atrasos nos recebimentos, o setor de insumos pode enfrentar um novo problema se o produtor não acelerar as compras de defensivos e fertilizantes para a próxima safra: gargalos logísticos para a entrega de produtos.

Executivos do setor têm demonstrado preocupação com a demora do agricultor ao definir suas compras. Eles alertam que, se todos fizerem os pedidos ao mesmo tempo, indústrias e revendas podem enfrentar limitações na capacidade de transporte e não conseguir atender seus clientes antes do plantio da soja, que começa em setembro nas principais regiões.

“A negociação de insumos para a próxima safra está atrasada em comparação com os anos anteriores. Do ponto de vista do produtor, isso coloca em risco o recebimento, porque vai estressar a logística, especialmente da cadeia de fertilizantes que já é estressada”, disse Ruy Cunha, CEO da Lavoro, ao The Agribiz.

“Esses atrasos vão impor um stress logístico que também afeta as revendas. Vamos ter uma janela apertada de entregas”, completou Cunha.


A Vittia, que atua na produção e distribuição de insumos, tem preocupação semelhante. “Se a indústria não conseguir se programar, os produtores podem ter problemas para receber os insumos que eles desejam,” Alexandre Del Nero Frizzo, diretor-financeiro da Vittia, disse ao The Agribiz.

Vendas atrasadas

Até o final de junho, os sojicultores brasileiros haviam vendido 10% da produção estimada para a safra 2023/24 de forma antecipada, metade da média dos últimos cinco anos, segundo dados da consultoria AgRural. O número, visto como um indicador de compras de insumos, é o menor desde a safra 2017/18, segundo a analista Daniele Siqueira.

Nas últimas semanas, houve uma aceleração no ritmo das vendas com a recuperação nos preços da soja em Chicago e um aumento na demanda por importadores chineses.

Mas o atraso continua relevante e preocupa, principalmente considerando que há 50 milhões de toneladas de soja da safra 2022/23 que ainda estão nas fazendas e precisam ser exportadas, além de uma safra recorde de milho que está sendo colhida e precisa ser movimentada. A demanda por transporte é alta e deve continuar pressionando os fretes, acrescenta.

O produtor está atrasando suas compras ao máximo por causa da queda nos preços das commodities ao longo do último ano e uma sensação de segurança no abastecimento. Ao contrário do ano passado, quando havia dúvidas sobre as entregas em meio a incertezas no mercado internacional, a sensação de segurança de que serão atendidos este ano pode ser outro fator que está causando a demora.

Os produtores sabem que os estoques de fertilizantes e de alguns defensivos estão em patamares historicamente altos, mas eles estão longe de ser suficientes para abastecer todos. Precisam tomar cuidado para não dar um tiro no pé.