Meteorologia

Inverno com pouca chuva: bom para a colheita, ruim para as queimadas

Nova estação terá temperaturas acima do normal e chuvas abaixo da média na região Sul; La Niña só chega em setembro

Inverno seco favorece trigo no RS

Nem parece diante das temperaturas elevadas, mas o inverno do Hemisfério Sul começou ontem. Boa parte do Brasil terá uma estação mais seca que o normal, embora já seja comum não chover muito nesta época do ano nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, no interior do Nordeste e na porção norte da Amazônia.

O inverno costuma ser mais chuvoso apenas no Sul, no litoral do Nordeste e em Roraima. A novidade, no entanto, é que até mesmo a região Sul terá menos chuva que o normal nesta estação. Isso também significa que teremos uma reviravolta no clima do Sul, porque o outono foi o mais chuvoso da história. Em Porto Alegre, por exemplo, o acumulado alcançou 880mm desde o início do outono até o dia 18 de junho e o normal seriam 350mm.

Outro fenômeno que chamará a atenção será a quase ausência de frio intenso. Por conta da baixa umidade relativa do ar e das noites mais longas, até há previsão de madrugadas frias, porém aquelas fortes ondas de frio com formação de geadas serão menos frequentes em 2024. A previsão é de temperatura acima do normal em boa parte do País.

Vale lembrar que o outono foi muito quente no Brasil. No Estado de São Paulo, todos os meses da estação tiveram temperatura acima do normal com desvios que passaram dos 5°C na temperatura máxima especialmente nas regiões de Bragança Paulista, Campinas e Piracicaba.

Do ponto de vista da agricultura, o inverno é um período de colheita de culturas como o algodão, cana-de-açúcar, laranja, café e a segunda safra de milho. Então, não aparecerão muitas notícias sobre problemas, já que a atividade exige tempo seco.

Especificamente no Sul, o período será de desenvolvimento das culturas de inverno, como trigo, aveia e cevada. A ausência de frio poderá aumentar a incidência de doenças, especialmente no Paraná. Por outro lado, a diminuição da chuva favorecerá as culturas no Rio Grande do Sul.

Queimadas

Por fim, a estação será caracterizada pelo agravamento de problemas ambientais, entre eles as queimadas. Os quase 30 mil focos registrados em 2024 colocam o País no segundo pior ano desde o início da contagem por parte do Inpe, em 1998. Apenas em 2003, foram registrados mais focos que atualmente.

Outro ponto de atenção será a navegação e abastecimento de água de populações do Pantanal e Amazônia, já que os rios estão muito baixos e sem perspectiva de mudança nos próximos 90 dias.

La Niña em setembro

Sobre a temperatura do oceano Pacífico, o fenômeno El Niño, aquecimento das águas da região central equatorial, terminou no decorrer do outono. Muito se fala sobre o resfriamento e, por consequência, a formação do La Niña.

Mas esse período de transição entre um fenômeno e outro será um pouco mais longo, e o La Niña deverá aparecer apenas a partir de setembro. Isso significa que boa parte do inverno não terá influência do Pacífico equatorial, fazendo com que surjam outros protagonistas no Brasil, entre eles a temperatura do oceano Atlântico, por exemplo.

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Celso Oliveira, colunista de The AgriBiz, é especialista em clima e tempo da Safira Energia. Atua há mais de 20 anos em previsões climáticas para a agricultura.