Em atualização recém-divulgada pela Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), a chance de desenvolvimento de um fenômeno La Niña, ou seja, um resfriamento das águas do oceano Pacífico equatorial, aumentou para o segundo semestre de 2024.
Há chance de aproximadamente 60% de formação do fenômeno a partir de setembro/outubro. Nos últimos anos, aliás, tem sido mais fácil a formação de La Niñas que El Niños. Existe um ciclo de longa duração chamado de Oscilação Interdecadal do Pacífico, que é caracterizado por águas mais frias (fase negativa) ou mais quentes (fase positiva) no Pacífico Norte, próximo da costa da América do Norte.
Desde o início dos anos 2000, a temperatura da água nesta região vem registrando valores abaixo da média e que acabam interagindo com a região do Pacífico Central, onde se forma o El Niño e o La Niña. Literalmente, a Oscilação Interdecadal “põe água na fervura do El Niño”, dificultando o aquecimento. Por outro lado, os fenômenos La Niña estão mais intensos e duradouros, tanto que o último aconteceu por três anos seguidos.
Somente para complementar a análise, o atual El Niño enfraquecerá gradualmente nos próximos meses. De acordo com a NOAA, o término do fenômeno acontecerá entre abril e junho.
E, apesar da novidade ser a volta do La Niña, ainda seremos influenciados pelo El Niño até meados do outono. Tanto que uma previsão multivariada rodada pelo Centro Europeu indica chuva acima da média no Rio Grande do Sul no trimestre fevereiro-março-abril.
Outras áreas com chance de chuva acima da média é a costa leste do Nordeste e boa parte da Região Sudeste. Neste caso, no entanto, a chuva não acontecerá pelo El Niño, mas sim, pela temperatura do oceano Atlântico, que se elevou consideravelmente a partir de novembro e vem fornecendo umidade para a precipitação.
Por outro lado, a quadra chuvosa será pouco úmida no norte do Nordeste, em boa parte da Região Norte e nos Estados de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul.
Impacto na agricultura
E como tudo isso mexe com a agricultura nos próximos meses?
O fantasma da estiagem não apenas continuará rondando culturas de primeira safra, mas também a segunda safra. As maiores anomalias negativas são previstas sobre o Matopiba e pode faltar chuva para fechar o ciclo da soja e do milho nos Estados do Piauí, Maranhão, Tocantins e Bahia, além do Pará.
Também há preocupação para a segunda safra de milho de Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. E, além de grãos, será necessário olhar a cana de açúcar do oeste de São Paulo, Triângulo Mineiro, Mato Grosso do Sul e norte do Paraná. A última safra foi recorde, mas o desenvolvimento da cultura atualmente vem abaixo do ideal por conta da estiagem prolongada e do calor excessivo.
E, claro, não há somente notícias ruins. Produtores do Rio Grande do Sul até vêm relatando ansiedade pela recente diminuição da chuva, mas a tendência é que os períodos secos não sejam tão longos como nos últimos anos. A expectativa é de milho e soja em melhores condições, não apenas no Rio Grande do Sul, mas como também na Argentina até a colheita.