Insumos

Na Bayer, produtor aumenta o poder de compra com ‘barter de dados’

Clientes da plataforma FieldView poderão usar a produtividade de suas fazendas no cálculo do barter. Em projeto piloto, poder de compra do agricultor subiu 25%

A revolução digital da agricultura chegou também às operações de barter. A Bayer, dona da plataforma Climate FieldView, começou a usar dados históricos de produtividade das fazendas na oferta desse tipo de financiamento. O resultado é um aumento no poder de compra do agricultor.

Nas operações de barter, os agricultores trocam insumos por uma parte de sua futura colheita. O produtor se compromete a entregar determinada quantidade de soja como pagamento, por exemplo. Normalmente, para o cálculo desse volume a ser entregue, é usada a média de produtividade da região em que está o produtor, calculada pela Conab.

A partir de agora, na Bayer, o cálculo deixará de ser feito com as médias regionais, que serão substituídas pelo histórico de produtividade individual do produtor, armazenado na plataforma FieldView.

Segundo Thiago Bortoli, head de novos modelos de negócios da Bayer Crop Science, a mudança no cálculo do barter partiu de uma demanda dos próprios usuários da plataforma — agricultores mais tecnificados do que a média e que, portanto, tem conquistando ganhos maiores de produtividade com o uso de ferramentas de agricultura de precisão.

“Os dados da Conab estavam ficando defasados. A média de produtividade dos agricultores com Fieldview vem se descolando da produtividade média do Brasil”, disse Bortolli ao The AgriBiz.

Depois de validar um projeto piloto na safra passada, a Bayer vai adotar o Barter+, como foi batizado o programa, para todos os usuários do Fieldview nas suas vendas diretas de insumos — desde que os agricultores autorizem o acesso aos dados individuais.

“No ano passado, conseguimos incrementar em 25% o poder de compra do agricultor, em média”, afirmou Bortolli numa referência ao piloto. Em 100% dos casos, a produtividade individual foi superior à média regional.

O produtor que tem um histórico maior de dados e mais talhões mapeados tende a obter médias de produtividade maiores, o que acaba gerando uma demanda adicional de acesso ao FieldView, a maior plataforma de agricultura digital do País. “Ao receber esse tipo de benefício, o produtor acaba querendo se conectar mais”, disse.

No piloto, o Barter+ respondeu por 15% das operações de barter realizadas pela Bayer na safra 2023/24. Para a nova temporada, a companhia não arrisca estimar um percentual para a representatividade do programa no total de financiamentos, mas o apetite é grande. São mais de 28 milhões de hectares mapeados no FieldView — mais da metade da área total de soja do Brasil. A plataforma conta com dados históricos desde 2017.

Uma empresa de tecnologia

O Barter+ é um exemplo de como a Bayer está transformando os seus negócios globalmente, tornando-se também uma empresa de tecnologia. A grande virada veio em 2018, com a aquisição da Monsanto, que trouxe com ela a Climate — o primeiro unicórnio do agronegócio que tinha como principal produto a plataforma FieldView.

Com base nos dados armazenados e as informações geradas pela plataforma, a Bayer tem aumentado a oferta de produtos e serviços que têm como base a agricultura de precisão.  

Num programa voltado para produtores de milho, chamado Valora, a Bayer analisa cada talhão da fazenda para prescrever ao produtor a exata densidade populacional de sementes por metro quadrado com a finalidade de aumentar a produtividade. Nessa análise, a empresa usa as informações individuais do produtor, mas também a sua própria base de dados, inteligência artificial e ferramentas de machine learning.

No projeto piloto com cerca de 700 agricultores, houve um aumento de produtividade de 4% com o manejo prescrito pela Bayer em relação ao que o agricultor fazia.

Em outro programa, chamado Bayer Directo, a empresa tenta revolucionar a forma de tratamento dos nematóides, um problema crescente nas lavouras. Hoje, segundo Bortolli, a única forma de identificar a presença de nematóides no solo é cavar um buraco, retirar amostras do solo para análise em laboratório. “Estamos desenvolvendo uma tecnologia para que não seja mais preciso cavar buracos”, contou.

Para isso, a empresa está usando camadas de dados fornecidos pelos produtores e cruzando-os com seus algoritmos para recomendar onde o agricultor deve aplicar o nematicida. “Assim, o produtor só aplica onde tem problema, reduzindo o uso do defensivo”, afirmou. O programa está em fase de piloto no Brasil, com a participação de 150 produtores.

Globalmente, a Bayer espera ter, em 2024, o quarto ano consecutivo de crescimento nas vendas na divisão agrícola. A taxa de expansão, no entanto, deve ser mais moderada do que nos anos anteriores, entre 1% e 4%, devido às condições de mercado mais desafiadoras.

No primeiro trimestre, a receita da Bayer Crop Science caiu 3%, para 7,9 bilhões de euros, principalmente devido a um menor volume de vendas na Europa, Oriente Médio e África. O Ebitda caiu 12,8% devido a preços menores, principalmente de produtos a base de glifosato.

Nos Estados Unidos, a gigante alemã sofre com os processos judiciais relacionados ao herbicida Roundup, herdado da Monsanto. Nesta semana, o CEO global da Bayer, Bill Anderson, se referiu à onda de processos (e condenações) como uma “ameaça existencial” à companhia.

Listada na bolsa de Frankfurt, a Bayer está avaliada em 27 bilhões de euros.