Insumos

No ano de margens baixas para o algodão, a tecnologia ganha espaço

Manter os custos sob controle e aumentar a produtividade será prioridade para os cotonicultores — um grupo já extremamente qualificado restrito a centenas no Brasil

FORTALEZA (CE) – O Brasil se tornou o líder mundial de exportação de algodão, mas manter esse pódio não será tarefa simples. Especialistas projetam um excesso de oferta da commodity ao final desta safra, o que vai comprimir as margens dos produtores. Para garantir uma rentabilidade razoável, os cotonicultores precisam ganhar em produtividade.

Os Estados Unidos, principal rival do Brasil nesse mercado, devem recuperar a produção neste ano com um crescimento de 25% em relação à safra anterior, atingindo cerca de 3,5 milhões de toneladas. Com isso, os americanos vão se aproximar do Brasil, que deve colher 3,6 milhões de toneladas.

No cenário mais bearish, os contratos futuros podem ser negociados a um intervalo de US$ 0,59 a US$ 0,62 por libra-peso, segundo Ron Lawson, diretor comercial da RCM Ag Services. Produtores nacionais, entretanto, trabalham com uma perspectiva ligeiramente mais otimista, entre US$ 0,69 e US$ 0,72. As estimativas foram apresentadas no 14º Congresso Brasileiro do Algodão, que acontece nesta semana em Fortaleza (CE).

O algodão passa por um desafio estrutural de demanda. Nos últimos 20 anos, as fibras têxteis cresceram cerca de 4% ao ano, enquanto as sintéticas avançaram 5,3%. Já o algodão avançou apenas 1%. Diante desse cenário, a participação de mercado do algodão no universo das fibras despencou: passou de 45% em 2002 para 22% em 2022, segundo dados de Eric Thatchenberg, do Comitê Consultivo Internacional do Algodão (ICAC).

“Os desafios de crescimento da demanda do algodão estão ligados à economia global. Os consumidores não estão gastando tanto com roupas em meio a um cenário de recessão em diferentes economias. Contudo, em médio prazo, não há dúvida de que o algodão continuará sendo uma necessidade”, afirma Shea Murdock, líder global de Algodão da Bayer, ao The AgriBiz.

Poucos e bons

No caminho daqui até lá, manter custos sob controle e maximizar a produtividade será prioridade para produtores. Na edição recorde do Congresso Brasileiro do Algodão, mais de 3.500 participantes circulam atentos nos estandes de multinacionais, que transformaram o evento em um palco de novidades — e de tecnologia — para a cotonicultura.

“Hoje, o número de produtores de algodão no Brasil não chega a 500. Está em 340, nos últimos dados que temos. Destes, os 20 maiores têm mais de 60% da área plantada, que, ao todo, soma 2 milhões de hectares no país. É o perfil de uma cultura extremamente concentrada”, explica Fernando Prudente, líder de Produto de Soja e Algodão da divisão agrícola da Bayer no Brasil.

Diante desse público, a multinacional, uma das pioneiras em tecnologia para a produção de algodão no País, traz uma nova tecnologia focada em aumento de produtividade: a Bollgard 3 XtendFlex, biotecnologia incorporada às sementes de algodão que, resumidamente, torna a planta mais resistente aos herbicidas dicamba e glufosinato de amônio.

O produto é o resultado de mais de 10 anos de estudos na Bayer, que investe mais de 2 bilhões de euros por ano em pesquisa e desenvolvimento globalmente. Com base nos estudos conduzidos até aqui, o novo produto pode trazer um ganho de 11 arrobas por hectare. Para referência, a produtividade média do algodão é de 150 a 160 arrobas por hectare.

Soluções digitais

Outras multinacionais de insumos também trouxeram ao evento novas soluções, com o digital em destaque. A Syngenta, que monitora 54% de toda a área plantada de algodão no País, anunciou uma parceria com a Perfect Flight para monitorar a pulverização aérea de insumos agrícolas.

A Basf, por sua vez, trouxe uma nova tecnologia de mapeamento do campo, por meio de um aplicativo, visando maior eficiência no plantio. “Conseguimos fornecer essa tecnologia com base em dados agregados nos últimos sete anos, além de informações via satélite, diz Ricardo Arruda, gerente técnico da Basf Agro.

Na Sumitomo Chemical, a novidade é um novo fungicida para o controle da ramulária.

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A jornalista Karina Souza viajou a Fortaleza a convite da Bayer.