Tragédia

O impacto das enchentes no Rio Grande do Sul para o agro (até aqui)

Dez plantas de aves e suínos estão paradas e retomada pode demorar mais de 30 dias; perdas na soja e no arroz podem chegar a 6% e 11%, respectivamente

Foto aérea da cidade de Canoas (RS) atingida pelas chuvas
Imagem aérea mostra reflexos da inundação no município de Canoas, no Rio Grande do Sul | Crédito: Ricardo Stuckert (PR)

Enquanto as autoridades concentram esforços em salvar vidas e garantir a sobrevivência dos mais impactados pelos temporais no Rio Grande do Sul, os impactos da tragédia para o agronegócio começam a ser quantificados e temores de desabastecimento, levantados.

Dez frigoríficos de carne de frango e de suínos estão paralisados ou com “dificuldades extremas de operar” no Rio Grande do Sul devido à impossibilidade de processar insumos ou transportar colaboradores após as fortes tempestades destruírem pontes e rodovias no Estado. A informação é da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).

Com 20 unidades de produção de aves e 16 de suínos, o Rio Grande do Sul é um dos maiores produtores de carnes do Brasil, com uma participação de 11% na produção nacional de carne de frango e 20% em carne suína.

Segundo a ABPA, a retomada do sistema de produção no Estado pode demorar mais de 30 dias, o que começa a gerar preocupações de desabastecimento.

“Com a inviabilização temporária de núcleos que representam a maior parte da produção de carne de frango e grande parte da carne suína do Estado, há temor de que, além dos problemas já vivenciados hoje, a população gaúcha deverá enfrentar desabastecimento de produtos”, disse a ABPA em nota.

Além de perdas estruturais, alguns polos de produção enfrentam escassez de itens básicos, como água e luz, e serviços de telecomunicações. A prioridade das empresas do setor é o apoio às vítimas e alimentar os animais que estão no campo.

Perdas em grãos

Para a soja, estimativas iniciais apontam uma perda de 3% a 6% na produção projetada para o Estado, segundo relatório da Datagro sobre os impactos das tempestades na produção gaúcha. Assim, a safra total ficaria entre 20,75 milhões e 21,25 milhões de toneladas, ante expectativa inicial de produção de 22 milhões de toneladas.

Da área total, cerca de 22% ainda precisam ser colhidos, com uma produção potencial de 5 milhões de hectares que está comprometida. Além das perdas de volume, as chuvas também podem resultar em perdas de qualidade na soja, o que pode elevar os prejuízos aos produtores, atualmente estimado entre R$ 125 milhões e R$ 155 milhões pela Datagro — o excesso de umidade nos grãos ocasiona um desconto nos valores pagos aos agricultores.

O Rio Grande do Sul oscila com o Paraná na segunda posição entre os maiores produtores de soja, respondendo por aproximadamente 15% do volume total do País.

As maiores perdas de volume devem ser sentidas pelos produtores de arroz. A Datagro estima que as chuvas podem causar uma redução entre 10% a 11% da produção, estimada em 7,5 milhões de toneladas antes da tragédia. A projeção ainda não considera possíveis perdas em armazéns que sofreram inundações.

O prejuízo financeiro ficaria ao redor de R$ 68 milhões, com potencial impacto altista na inflação. O Rio Grande do Sul é o maior produtor de arroz do Brasil, representando cerca de 70% da safra brasileira.