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O que a IGC espera para os M&As no agro em 2024

André Pereira, sócio da butique de M&As especialista em agro, vê retomada na consolidação de revendas, mas empresas de biológicos e sementes seguem mais atrativas

A crise enfrentada pelas revendas de insumos agrícolas neste ano freou uma das maiores ondas de consolidação já vistas no agronegócio brasileiro. Mas a paradeira é temporária, garante André Pereira, sócio da IGC Partners — uma butique de M&As.

A análise vem de um dos nomes mais que mais entende do assunto. A IGC, que sempre atua assessorando o lado vendedor, foi um advisor quase onipresente na tese de consolidação de revendas iniciada em 2016.

A casa participou da venda de 25 ativos de distribuição para players como Lavoro, Aqua Capital (Agrogalaxy), Nutrien, Ihara e Marubeni. De longe, o segmento lidera os M&As de agro na casa. Desde 2013, quando começou a assessorar empresas do agro na venda de ativos, a IGC participou de aproximadamente 35 M&As no setor.

Para Pereira, um dos responsável pela área de agro da IGC — uma área com cerca de 40 pessoas —, o ano que vem já deve ser mais movimentado em relação a 2023, quando apenas duas transações foram fechadas no setor de revendas: a compra da gaúcha Referência Agroinsumos pela Lavoro e a aquisição do controle da goiana Spaço Agrícola pela mexicana Fertilizantes Tepeyac.

“Não tenho dúvidas de que veremos mais M&As em distribuição”, disse Pereira. Para ele, depois de colocar a casa em ordem, empresas que têm liderado a consolidação de revendas vão retomar o movimento que fez os múltiplos de valuation do setor dispararem devido à disputa acirrada.

“Em algumas regiões, como o Nordeste, esse movimento de consolidação ainda nem começou. E são regiões com oportunidades muito interessantes”, disse o executivo citando como exemplos a região de Luis Eduardo Magalhães, no oeste da Bahia, e o polo produtor de frutas em Petrolina (PE).

Interesse estrangeiro

Além das empresas brasileiras que saíram na frente nessa tese — especialmente Lavoro e Agrogalaxy —, as estrangeiras também têm demonstrado disposição em fazer mais aquisições no Brasil, segundo ele.

A canadense Nutrien, por exemplo, deu uma pausa em seu pipeline de aquisições com as dificuldades enfrentadas neste ano, mas deve retomar o movimento, considerando que o seu projeto para o Brasil é de longo prazo, acredita o especialista. Ao mesmo tempo, players com presença ainda tímida no Brasil, como a Tepeyac (líder em distribuição no México), têm demonstrado maior interesse em M&As no Brasil.

Sementes e biológicos

Enquanto o mercado de insumos se reorganiza, outros segmentos estão mais aquecidos e devem seguir movimentando mais fusões e aquisições em 2024. Sem dúvida, o setor mais “quente” é o de biológicos e fertilizantes especiais —não por acaso, a bilionária venda da Biotrop mais de dez interessados.

Outro segmento do agro que deve continuar movimento o setor de M&As é o de sementes, diz Pereira. Depois de apoiar a Lavoro na consolidação das revendas, o Pátria montou uma tese de consolidação das sementeiras, um negócio ainda muito fragmentado. Para Pereira, o aparecimento de um concorrente de peso para a Boa Safra pode esquentar os deals no setor.

O aumento esperado na demanda por biocombustíveis, especialmente para novos usos, como o SAF, pode estimular aquisições de ativos de esmagamento de soja pelas empresas líderes do setor, acrescentou Pereira. Empresas de distribuição em produtos para saúde animal e algumas agtechs que começam a ganhar escala também podem ser alvo de aquisição, afirmou.