Meteorologia

Os resultados de um dos piores períodos de chuvas em mais de 90 anos

Chuvas aumentam nos próximos dias, mas não compensam quatro meses de déficit; áreas de safrinha mais tardias podem sofrer.

Faltando pouco mais de 45 dias para seu término, trago um balanço parcial do período úmido, iniciado em outubro. Não é novidade para ninguém a falta de chuva e o calor excessivo na maior parte do país. O interessante, no entanto, é que algumas análises feitas para os reservatórios de água para geração de energia elétrica indicam que o período úmido ficou entre os 15 piores em um universo de mais de 90 anos de análise.

Nem sempre é possível fazer correlações entre geração de energia elétrica e agricultura, pois mesmo com chuva fraca para os reservatórios, em alguns casos, a precipitação é suficiente para uma boa produtividade agrícola no Brasil. Neste ciclo, no entanto, a falta de chuva foi ruim para os dois setores.

As notícias mais recentes giram em torno da consequência da falta de chuva e do calor excessivo dos últimos meses. O plantio da segunda safra de milho está acontecendo rapidamente e passa dos 30% da área total, de acordo com a Conab. Parte desta aceleração tem a ver com a soja, que acelerou seu ciclo por conta da estiagem e calor intenso da primavera.

No café, após a chuva forte e benéfica de outubro, os meses seguintes mais secos e quentes aumentaram dúvidas sobre a produção, especialmente em áreas não irrigadas do Cerrado de Minas Gerais.

Escassez de chuvas

Na cana de açúcar, também há dúvidas sobre a produtividade da safra 2024/25 (que começa em abril) por conta da baixa umidade do solo observada especialmente entre o oeste de São Paulo, sul de Mato Grosso do Sul e noroeste do Paraná. Os três Estados vêm enfrentando uma sequência de meses com acumulados de chuva abaixo da média desde o mês de novembro.

No feijão, a primeira safra vem sendo caracterizada pela grande infestação de pragas, como a mosca branca. Aliás, de uma forma geral no Brasil, os últimos meses secos e quentes ajudaram na proliferação de insetos, como não era visto há alguns anos.

Como será o fim deste período úmido?

No curto prazo, há previsão de chuva mais intensa sobre parte do país. Inicialmente, até o próximo domingo, uma frente fria e instabilidades tropicais trarão maiores acumulados às Regiões Sudeste e Nordeste, além dos Estados de Mato Grosso do Sul e de Goiás.

Entre 19 e 23 de fevereiro, ou seja, durante boa parte da semana quer vem, a precipitação também aumentará sobre Mato Grosso e Rondônia. Agora, o produtor está em um dilema, pois há necessidade da continuidade da chuva para o desenvolvimento da segunda safra, mas ao mesmo tempo está acontecendo a colheita da primeira safra e a precipitação excessiva paralisa a atividade. Estados como Minas Gerais e Goiás passarão por uma invernada, com chuva persistente e temperatura mais baixa, entre os dias 18 e 22 de fevereiro.

Após este período, os últimos dias de fevereiro e a primeira semana de março serão caracterizadas pelo calor e por nova diminuição da chuva no Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste. No Rio Grande do Sul, por outro lado, frentes frias trarão chuvas benéficas ao término do desenvolvimento da soja.

Vale a informação de que o mês de março não será dos mais chuvosos no Sudeste e Centro-Oeste. Até voltará a chover na segunda semana do próximo mês, mas a segunda quinzena voltará a ser mais seca.

Por enquanto, não há previsão de um corte brusco da precipitação a ponto de diminuir de forma muito significativa a umidade do solo. Mas a tendência é que o armazenamento de água não seja dos mais elevados para enfrentar o início do outono.

Todas as simulações da atmosfera para o mês de abril indicam que a chuva ficará abaixo do normal. Isso significa que áreas de segunda safra instaladas mais tardiamente possivelmente não terão umidade no solo suficiente para completar todo o ciclo.

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Celso Oliveira, colunista do The AgriBiz, é meteorologista com mais de 20 anos de experiência em análises climáticas para a agricultura. Atualmente, é diretor de operações da Prisma Meteorologia e analista do grupo Safira.