A capacidade de exportação de açúcar está perto do limite no Brasil e deverá ser testada na próxima safra com o aumento esperado para a produção da commodity, que deve continuar proporcionando um retorno maior para as usinas em relação ao etanol.
Com o boom do etanol de milho no Brasil, os processadores de cana têm investido na capacidade cristalização para aumentar ainda mais o mix de produção para o açúcar, resultando em aumento da produção do adoçante a partir do ano que vem.
Se neste ano o desafio para embarcar o produto já foi grande, ele deve ser ainda maior nos próximos, segundo especialistas na commodity reunidos em evento promovido pela Kinea Investimentos e o Santos Neto Advogados, em São Paulo, nesta segunda-feira.
“O grande desafio do Brasil, no caso do açúcar, é a capacidade de exportação, que no nosso entendimento já testa o limite este ano. No ano que vem, não haverá capacidade adicional para exportar”, disse Diego Dourado, diretor da trading inglesa Czarnikow. Para ele, o açúcar está enfrentando o mesmo problema logístico que a soja e o milho enfrentaram no passado — e que foi sanado com a expansão da capacidade de exportação pelos portos do norte.
“Falar para os produtores que eles vão ter que exportar por portos que não sejam Santos ou Paranaguá não é muito bem recebido neste momento. Mas, eventualmente, o açúcar vai ter que procurar alternativas”, acrescentou Dourado.
Superando desafios
Para Bruno Trombelli, diretor comercial da área de açúcar na Raízen, os exportadores têm conseguido se organizar para responder à demanda global, utilizando ao máximo a capacidade logística atual.
“No início do ano, estávamos discutindo que o supply chain este ano seria super complexo porque a produção poderia chegar a 38,5 milhões de toneladas de açúcar. Estamos em outubro questionando se chegaremos a 40 milhões de toneladas e se a gente vai conseguir tirar tudo ou não”, comentou.
“O Brasil precisa de mais infraestrutura, isso não mudou. Talvez o que tenha mudado no curtíssimo prazo foi a capacidade dos players de se organizar”, disse Trombelli, lembrando das dificuldades de se colocar em pé um projeto de logística, principalmente em um ambiente de altas taxas de juros como o atual.
Mais sobre o debate
A seguir, outros destaques do debate que, além de Dourado e Trombelli, teve a participação de Andy Duff, estrategista global do Rabobank para o mercado de açúcar, Bruno Trombelli, da Raízen, e Felipe Greco, da Kinea, como moderador:
- O aumento da oferta global de açúcar deve continuar vindo do Brasil, o maior exportador, enquanto os produtores na Índia seguem focados em produzir mais etanol para atingir a meta de mistura de 20% em 2025, disse Dourado.
- O preço de equilíbrio para o açúcar é visto ao redor de US$ 0,28 por libra-peso por Trombelli, da Raízen. Ao mesmo tempo em que as cotações precisam subir para atrair produtores da Tailândia a voltar a investir na produção, já que a Índia deve seguir fora do jogo, ele não deve subir muito além, pois passa a incentivar a produção do adoçante em diversos lugares do mundo.
- Enquanto as usinas devem continuar investindo na maior capacidade de cristalização no curto prazo, as perspectivas de longo prazo para o etanol são positivas, com o biocombustível sendo um bom vetor para transportar hidrogênio e, potencialmente, obter combustível marítimo verde.
- Existem diversas formas de produzir SAF (combustível sustentável de aviação), mas os altos custos de novas tecnologias abrem uma janela para o SAF feito a partir de etanol e óleo vegetal, disse Duff. Mas, para viabilizar essa produção, são necessárias parcerias e maior clareza sobre o mercado de carbono.
- “Existe uma janela que poderíamos utilizar melhor se tivéssemos capital com custo mais barato no Brasil para fazer SAF local” em vez de exportar o etanol para a produção de SAF nos Estados Unidos, afirmou Trombelli.