Segurança alimentar

Por que a Salic investe no Brasil. Falamos com o vice-presidente

“Acho que nem todos ainda conhecem o que é o mandato da Salic”, disse o brasileiro Eder Brambilla, vice-presidente sênior do fundo saudita

Quando a Salic anunciou o compromisso de investir até R$ 2,25 bilhões no follow-on da BRF, muitas curiosidades sugiram sobre as intenções da empresa saudita. De Riad, o executivo que participou do investimento na BRF explica o que sua companhia faz.

“Acho que nem todos ainda conhecem o que é o mandato da Salic”, disse o brasileiro Eder Brambilla, vice-presidente sênior e responsável pelos investimentos internacionais do fundo saudita, em entrevista ao The Agribiz.

A Salic, sigla para Saudi Agricultural and Livestock Investment Company, foi fundada em 2009 e pertence ao fundo soberano da Arábia Saudita (PIF). O mandato da Salic é explícito: fazer investimentos para garantir a segurança alimentar do reino, um país que importa mais de 80% dos alimentos. Assim, países produtores de alimentos são um destino natural.

Diante desse mandato, investir na BRF não teve a ver com o preço do ativo. O mais importante é o sentido estratégico, se tornando acionista minoritário (com 10,7%) de uma das principais empresas de alimentos no mundo, disse Brambilla.

No Brasil, além dos 10,7% na BRF a Salic possui 30,5% das ações da Minerva, uma relação estratégica e de parceria iniciada em 2016. Além de BRF e Minerva no Brasil, os sauditas investem em diversos outros países. Na Austrália, possuem uma joint venture com a própria Minerva em um negócio de cordeiros.

Também possuem participações em trading de grãos, como a Olam, companhia sediada em Singapura na qual investiram mais de US$ 1,2 bilhão. Desde 2015, a trading canadense G3 — uma companhia que origina 8 milhões de toneladas de grãos — é uma das investidas da Salic.

Na Índia, a Salic tem 9,2% da LT Foods, uma grande produtora de arroz. Na Ucrânia, os sauditas participam da Continental Partners Group, uma produtora agrícola com aproximadamente 200 mil hectares.

Os árabes também fazem investimentos locais. Na Arábia Saudita, têm participações minoritárias em companhias de aquacultura (Alasmak e National Aquaculture Group) e duas de lácteos e derivados (Nadec e Almarai). Também possuem participação na National Grain Company, que opera terminais de grãos.

Quem é Eder Brambilla

Brasileiro, Brambilla não é um neófito no mundo da indústria de alimentos. Possui larga experiência em companhias do setor, com passagens por BRF e JBS, onde trabalhou em São Paulo e na sede do Colorado. Antes de chegar à Salic, há quase três anos, Brambilla ainda assessorou fundos de venture capital globais.

Brambilla conversou com The Agribiz num momento especial para as relações entre Brasil e Arábia Saudita. Nesta semana, uma megacomitiva liderada por Khalid Al-Falih, ministro do Investimento e ex-chairman da petroleira Saudi Aramco, está no Brasil para uma série de reuniões.

O PIF, fundo soberano saudita, também vem ampliando os investimentos por aqui. Na semana passada, comprou uma participação minoritária no negócio de metais básicos da Vale.

Enquanto os sauditas estão no Brasil, uma comitiva brasileira liderada pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, está em Riad para desenvolvimento das relações bilaterais. No domingo, uma das reuniões dos brasileiros no país foi justamente com a Salic.