A autoridade antitruste do Uruguai vai mesmo reprovar o bilionário M&A entre Minerva e Marfrig neste primeiro momento, mas isso está longe de significar que o negócio entre as duas companhias não vai ocorrer, apurou The AgriBiz.
Ontem à noite, a imprensa uruguaia relatou que a Coprodeco (o equivalente ao Cade do país sul-americano) decidiu barrar a aquisição, o que provocou algum ruído no Brasil e levantou dúvidas entre investidores e analistas.
Durante a manhã, os bancos Safra, Goldman Sachs e BTG Pactual enviaram relatórios a clientes citando a imprensa uruguaia e traçando conjecturas sobre o futuro da aquisição.
Oficialmente, as autoridades uruguaias ainda não se manifestaram, mas o prazo da Coprodeco para se manifestar é segunda-feira, dia 20 de maio. Já é praticamente certo que a decisão será negativa, apurou a reportagem com fontes no Uruguai.
Assim que a Coprodeco divulgar a reprovação, a Minerva poderá recorrer da decisão em até 10 dias, o que certamente fará.
A partir daí, o caso deve levar até 150 dias para chegar a um desfecho e o martelo provavelmente só será batido pelo Ministério das Finanças e, em última instância, pelo presidente da República, Luis Lacalle Pou, tamanha é a importância do negócio para a economia uruguaia. A Marfrig é a maior empresa privada do país.
Tempo para negociar
Ao reprovar o negócio neste primeiro momento, o governo uruguaio ganha mais tempo para avaliar o negócio, aproveitando que o Cade brasileiro já havia estendido o prazo de análise, arrastando a aprovação para o fim de 2024.
No Uruguai, a percepção é que o governo terminará aprovando o negócio, com a aplicação de um remédio concorrencial, evitando que a participação nos abates passe de 40%.
Dos 16 frigoríficos que a Minerva vai comprar da Marfrig, três ficam no Uruguai. Com o M&A, a capacidade de abate da companhia dos Vilela de Queiroz em terras uruguaias aumentará em mais de 80%, saindo de 2,5 mil bois por dia para 4,5 mil, passando a contar com sete frigoríficos no país.
Ao que tudo indica, a Minerva precisará vender um frigorífico no país para conseguir a aprovação no Uruguai, reduzindo a participação no abate total para 35%. Com isso, terminaria o processo com seis abatedouros de bovinos por lá, preservando o sentido econômico da aquisição.
Na prática, o atraso do processo antitruste no Uruguai não é um problema em si, até porque a estrutura do acordo firmado entre Marfrig e Minerva prevê que a companhia dos Vilela de Queiroz só poderá assumir os ativos uruguaios depois que o negócio envolvendo as unidades no Brasil, Argentina e Chile for concluída. Com o processo no Cade ainda levará alguns meses, o efeito é nulo.
Por outro lado, se as aprovações de Brasil, Argentina e Chile saírem antes — o que seria uma surpresa positiva —, a Minerva já poderia assumir essas operações, disse uma fonte.
Operacionalmente, o M&A de R$ 7,5 bilhões foi fatiado em dois blocos: Brasil, Argentina e Chile em um; e Uruguai em outro, sendo que a conclusão deste só ocorre com a aprovação do primeiro.
Pelos negócios no Uruguai, estima-se que a Minerva tenha pago cerca de R$ 670 milhões, menos de 9% do valor total da aquisição.
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Em comunicados enviados na manhã desta sexta-feira, Minerva e Marfrig disseram que, apesar das informações que circulam na imprensa uruguaia, ainda não haviam sido notificadas pelo órgão antitruste do Uruguai sobre qualquer decisão.