Sanidade

Qual o risco de embargo à carne de frango? Japão dá sinal

Japão, terceiro maior importador da carne brasileira, impôs o primeiro embargo ao produto nacional e vetou as compras do frango do Espírito Santo

A chegada da gripe aviária em aves de fundo de quintal no Espírito Santo provocou a primeira restrição internacional ao frango brasileiro. O Japão, terceiro maior importador do produto nacional, bloqueou a carne capixaba.

Embora o efeito para o comércio seja nulo pela pouca relevância da avicultura do Espírito Santo, a barreira traz preocupações sobre a dinâmica de embargos caso o vírus chegue em criações de aves para subsistência de estados mais relevantes para a avicultura.

Pela primeira vez, vírus foi detectado em uma criação de aves de subsistência; caso correu em Serra, no Espírito Santo. Fonte: Shutterstock

O Espírito Santo não exportava para o Japão e, mesmo quando se considera todos os destinos, a participação do frango capixaba nas exportações brasileiras é muito pequena, de apenas 0,19%, segundo os dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

Para todos os efeitos, o Brasil segue com o status de livre de gripe aviária perante a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). Pelas regras, casos em aves silvestres ou animais de fundo de quintal não alteram o status sanitário.

A decisão do Japão, no entanto, colocou toda a avicultura em alerta. “Esperamos que seja uma medida preventiva”, disse Ricardo Santin, presidente da ABPA, ao The Agribiz.

A esperança é que, depois de uma conversa com o adido agrícola no Japão, as autoridades compreendam melhor o cenário.

Regionalização do risco

Do lado positivo, Santin destacou a regionalização do embargo japonês — restringindo o veto ao Espírito Santo —, o que indica que o país asiático pode seguir essa linha se a doença chegar a outras regiões.

A regionalização do risco é uma agenda fundamental para os exportadores de carne de frango. No certificado internacional para a exportação de frango para o Japão, consta que o Brasil é um país livre de gripe aviária. O ideal é que esse termo mude para “região livre”, o que evitaria problemas de interpretação no futuro.

Se algum momento a doença chegar às granjas comerciais, o que todos torcem para que não ocorra, apenas a região específica ficaria bloqueada. Essa já é uma prática do Japão com os Estados Unidos. Lá, o país asiático só bloqueia os estados com casos da doença, o que mantém o fluxo de vendas.

No ano passado, o Japão gastou cerca de US$ 1 bilhão para importar 420 mil toneladas de carne de frango brasileira. O país asiático respondeu por 9% das exportações brasileiras, segundo a ABPA.

Efeito nas ações

A evolução da gripe aviária no Brasil é acompanhada de perto por investidores de BRF. A dona da Sadia é a maior exportadora de carne de frango e está no meio de um processo para capitalizar a companhia.

De fato, o embargo japonês mexeu com as ações. Os papéis da dona da Sadia (BRFS3) tiveram a maior baixa do Ibovespa, recuando mais de 4%.

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Abaixo, a nota oficial da ABPA: 

“A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) lamenta a decisão do Japão pela suspensão temporária regionalizada de compras de carne de frango provenientes do Estado do Espírito Santo.  A ABPA ressalta que a decisão tomada pelas autoridades japonesas não está em linha com as orientações da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), que indica suspensão de comércio apenas em casos registrados em produção comercial.  

Cabe lembrar que a avicultura industrial do Brasil segue sem qualquer registro da enfermidade. A suspensão se deu após ocorrência de foco de Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP) em uma ave de subsistência (fundo de quintal) no município de Serra (ES). Atualmente, o Japão não importa produtos do Espírito Santo.  O estado representa 0,19% do total exportado pelo Brasil, conforme dados de 2022. 

De qualquer forma, independentemente ao fato registrado, a ABPA lembra que não há qualquer risco de transmissão da enfermidade por meio do consumo de produtos, informação que é respaldada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), OMSA e todos os órgãos internacionais de saúde humana e animal”.