Ao vender os ativos à Minerva, a Marfrig concentra o foco em produtos processados e, na partida, consegue uma redução substancial no endividamento. Em menos de três meses, o fundador Marcos Molina garantiu R$ 13 bilhões para o caixa do grupo consolidado — R$ 5,4 bilhões via follow-on na BRF e o restante com a venda dos ativos à Minerva.
Após a fusão, o índice de alavancagem da Marfrig cairá de 4,08 vezes para 3,12 vezes, o CEO da companhia, Rui Mendonça, afirmou ao The Agribiz. Quando consolida BRF, o indicador cai de 3,5 vezes para 2,98 vezes.
A Marfrig não deixará de produzir carne bovina na América do Sul, mas terá um parque concentrado no que Mendonça chama de “complexo industrial”, aliando produção de carne in natura e industrialização (hambúrguer, carnes enlatadas e cozida, entre outros).
Segundo Mendonça, 58% do faturamento atual da Marfrig na América do Sul vai permanecer. Após o M&A, a empresa vai ficar com a fábrica de hambúrguer de Bataguassu (MS), inaugurada no ano passado, e os complexos de Várzea Grande (MT), que possui frigorífico e indústria de processados, e Promissão (SP). Em Ulha Negra, a companhia também mantém a Pampeano, de carne enlatada e beef jerky.
Na Argentina, a companhia mantém duas fábricas de hambúrguer e as unidades de salsichas e vegetais congelados. Lá, a Marfrig seguirá dona das marcas Paty e Vieníssima, líderes de mercado. A companhia fica ainda com o frigorífico de Tacuarembó, no Uruguai, que abate e possui capacidade para a produção de industrializados.
Margens melhores
Nos cálculos da Marfrig, os ativos que permanecem com a companhia têm uma receita pro-forma de R$ 15,8 bilhões e fazem margens melhores do que a média, exatamente pelo benefício das operações de industrializados. Enquanto a margem Ebitda da companhia na América do Sul ficou perto de 8% no ano passado, os ativos remanescentes fazem mais de 10%.
“É um negócio de dois dígitos”, disse Mendonça. Além disso, a Marfrig já vinha investindo para ampliar a capacidade dessas unidades. A capacidade de abate, por exemplo, deve sair das 5 mil cabeças diárias para 7 mil.
Outra vantagem: 65% das exportações de carne bovina que a Marfrig faz para a China é produzida em Várzea Grande e Promissão, plantas que permanecem. Mesmo na exportação de carne in natura, a companhia manteve ativos que operam em mercados de margens melhores.
Futuro da BRF
O foco em processados de carne bovina torna uma possível união com a BRF, controlada pela Marfrig, ainda mais lógica, fortalecendo a posição em alimentos processados e com marca. As fábricas de hambúrguer, aliás, já têm a dona da Sadia como maior cliente.
Uma combinação definitiva entre Marfrig e BRF criaria uma das maiores empresas de alimentos do mundo, competindo com JBS e Tyson Foods, com um peso ainda maior das marcas no portfólio.
Se for bem sucedida na estratégia, a Marfrig pode conseguir mudar os patamares de múltiplos que negocia na bolsa, saindo de um negócio mais commoditizado — que negocia perto de 5 vezes o Ebitda — para uma companhia de valor agregado. A americana Hormel, que negocia a 15,2 vezes, é uma referência.
Quando soma os ativos remanescentes da América do Sul com National Beef e BRF, a Marfrig chega a um faturamento consolidado de R$ 130 bilhões, uma das dez maiores empresa do Brasil.