FORTALEZA (CE) – Os caminhos para avançar na produção nacional de algodão ganharam um compromisso nesta quinta-feira. Produtores da fibra e a indústria têxtil anunciaram a meta de elevar o consumo brasileiro de algodão para 1 milhão de toneladas até 2030. Hoje, ele está em 700 mil toneladas — patamar no qual está estacionado há anos.
O compromisso para reaquecer a demanda local, que já chegou a superar 1 milhão de toneladas, está ligado ao objetivo de elevar a produção nacional de algodão para 5 milhões de toneladas até 2030, o que representaria um crescimento de 36% em relação à safra atual. Apesar do potencial de crescimento no Brasil, a maior oportunidade segue ligada à exportação, que deve absorver 4 milhões de toneladas.
O Brasil parece estar no caminho certo. No período de agosto de 2023 a julho deste ano, foram exportadas 2,7 milhões de toneladas, alta de 85% em relação ao período comercial anterior. A China continua como principal importador, com 49% desse total, seguida por Vietnã (15%) e Bangladesh (11%).
Do lado da oferta, Alexandre Schenkel, presidente da Abrapa, estima um crescimento de 10% na área para a próxima safra — inferior aos quase 20% da última safra mas um patamar sustentável de crescimento. Do lado da demanda, ele ressalta o trabalho ligado a políticas públicas de incentivo ao algodão e a busca por oportunidades de colaboração com a indústria brasileira para a modernização de fábricas.
Junto a isso, o executivo faz coro ao argumento unânime defendido ao longo de todo o evento realizado nesta semana em Fortaleza (CE): a necessidade de publicidade e conscientização de consumidores.
“Trabalhamos para conscientizar grandes varejistas a respeito da qualidade e da sustentabilidade do algodão brasileiro, de olho em aumentar o espaço do algodão, seja de forma combinada com outras fibras ou isoladamente”, afirmou Schenkel ao The AgriBiz. “Seremos o maior fornecedor de algodão de alta qualidade e sustentável do mundo.”
É uma oportunidade acompanhada de perto por players do mercado local, que veem no algodão ainda uma alternativa para a descarbonização. A Renner, por exemplo, maior varejista de moda do País, tem a meta de se tornar carbono neutro até 2030.
“Não adianta só o varejista querer. Só o produtor querer. Tem que existir um trabalho conjunto. Em 2012, quando começamos a pensar em sustentabilidade, trabalhar isso era muito caro e complexo, mas hoje conseguimos trazer cada vez mais escala. No caso do algodão, uma das principais oportunidades está em aumentar o mix da fibra no blend de peças”, afirmou Fabio Faccio, CEO da Renner, em painel nesta quinta-feira.
O trabalho a ser feito
Ainda há um longo caminho a ser traçado rumo a essa meta. O Brasil conquistou passos importantes, como a exportação ao Egito, mas ainda falta a percepção de alta qualidade para o produto no mercado externo.
“Hoje, o algodão brasileiro já é conhecido na África e na Ásia, por exemplo, mas ainda não é percebido como premium, como o algodão egípcio”, afirmou Giuseppe Gherzi, presidente da Gherzi consultoria, firma de renome na indústria têxtil.
Fortalecer essa relação — e os atributos do algodão brasileiro — passa por um relacionamento estreito com varejistas e com grandes polos de produção, como a Índia, apontou o executivo.
No caminho para se aproximar de ambos, um dos argumentos mais defendidos ao longo do evento foi a criação de um selo premium para o algodão brasileiro. O objetivo é competir de forma mais acirrada com o algodão Pima, do Peru, que tem uma produção muito mais tímida do que a brasileira, por exemplo.
“Precisamos cada vez mais de pessoas muito qualificadas para ajudar a construir esse tipo de selo”, afirmou Schenkel.
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A jornalista Karina Souza viajou a Fortaleza a convite da Bayer.