Temperaturas despencam, e previsão de geadas volta a preocupar

Temperaturas vão despencar na próxima segunda-feira, e possíveis geadas no sul do Brasil podem levar a perdas nas culturas de inverno

Lavoura de trigo germinando com sinais de geadas | Crédito: Schutterstock

O país vive uma verdadeira gangorra na temperatura. Entre os dias 10 e 12 de agosto, a temperatura despencou, levando os termômetros aos menores níveis em alguns anos em municípios do Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Posteriormente, o calor retornou com máximas próximas dos 40°C, sobretudo em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. E agora, na próxima segunda-feira, a temperatura despencará mais uma vez.

O frio não será extremo como o observado há pouco mais de dez dias, mas há previsão de temperaturas abaixo de 0°C, com formação de geadas nas áreas mais elevadas do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A previsão preocupa: quanto mais próximas da primavera, as geadas aumentam as chances de perdas em culturas de inverno, pois mais áreas entram nas fases mais vulneráveis de floração e enchimento de grãos.

De acordo com a Emater, 17% do trigo instalado está em floração no Rio Grande do Sul. No Paraná, mais da metade das áreas está em floração e enchimento de grãos. A geada da próxima segunda-feira, no entanto, não alcançará todas as áreas vulneráveis. A tendência é de perdas mais pontuais.

Além do trigo, produtores do Rio Grande do Sul se preparam para instalar o milho. Inclusive, algumas fazendas da metade norte do estado já iniciaram o plantio, embora o boletim da Emater ainda não comente sobre a cultura.

Em 2024, o risco de geadas tardias é elevado por causa da ausência do El Niño no primeiro semestre e porque o fenômeno La Niña ainda não se desenvolveu no oceano Pacífico. Isso faz com que as ondas de frio possam avançar livremente pela América do Sul. Até pelo menos o fim do primeiro decêndio de setembro, há chance de queda acentuada de temperatura especialmente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.

Seca e queimadas

Enquanto o Sul enfrenta o frio intenso, o tempo permanece seco em boa parte das regiões Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste. O número de queimadas impressiona. Até o dia 21 de agosto, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) detectou quase 95 mil focos de queimadas por meio de satélites. O valor é 70% maior que o observado no mesmo período do ano passado, perdendo apenas para o ano de 2010 com mais de 105 mil focos.

Por enquanto, não há expectativa de regularização das chuvas. Em setembro, até aparecerão as primeiras “trovoadas” (chuvas isoladas, acompanhadas de descargas elétricas e rajadas de vento), que pouco contribuirão para o aumento da umidade do solo e largada do plantio de soja.

Aliás, quem trabalha com irrigação abastecida com energia elétrica terá que ficar de olho na bandeira tarifária de energia. Embora ela tenha voltado a ficar verde em agosto (sem acréscimo de valor), a atual estiagem, o calor na maior parte do País e a expectativa de pouca chuva nas próximas semanas poderá fazer com que usinas térmicas sejam acionadas e a bandeira volte a ficar amarela, como já foi visto em julho.

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Celso Oliveira, colunista de The AgriBiz, é especialista em clima e tempo da Safira Energia. Atua há mais de 20 anos em previsões climáticas para a agricultura.