Opinião

Você sabe que você não sabe? Uma matriz para qualificar os riscos no agro

Alguns podem invocar a intenção divina ou mesmo o karma, mas o fato é que entender e mapear seus riscos é importante para qualquer negócio, em especial no agro

No meu artigo anterior, falamos sobre as diversas dimensões de riscos e como algumas delas são críticas para o agronegócio em geral. Agora, vamos focar em qualificar esses riscos.

Humildade é um dos valores essenciais para o profissional que trabalha com gestão de riscos, independente da especialidade. Como trabalhamos com a incerteza, nossa capacidade de analisar os fatos é constantemente testada e em diversos momentos seguir seu feeling pode trazer resultados melhores do que o contrário. Reconhecer más decisões e corrigir o curso é habilidade essencial.

Este exercício de repensar e qualificar os riscos é saudável e pode ser positivo até para seu sono e saúde em geral. Eu, particularmente, gosto de usar uma estrutura conhecida como Matriz de Rumsfeld. Donald Rumsfeld, ex-Secretário de Defesa dos Estados Unidos durante a guerra do Iraque, tornou essa ferramenta famosa em uma de suas apresentações sobre a possibilidade do país de Saddam Hussein possuir armas nucleares.

A matriz é formada por quatro quadrantes, com o eixo X representando a Capacidade de Quantificar o Impacto e o eixo Y demonstra o Nível de Conhecimento sobre tal risco. Em inglês, os quadrantes formados são: Known Unknowns, Known Knowns, Unknown Knowns e Unknowns Unknowns.

Em termos de riscos, os quadrantes podem ser entendidos assim:

  • Known Unknowns são aqueles riscos conhecidos, para os quais conseguimos nos preparar de alguma forma, mas cujo impacto é difícil de se quantificar. Por exemplo, uma seca ou praga na lavoura, ou uma questão fitossanitária no rebanho.
  • Known Knowns são aqueles riscos conhecidos e que temos ideia do seu impacto, como a quebra de uma máquina no meio do plantio ou colheita. Planos de prevenção e de ação bem estabelecidos podem ajudar muito nesses casos.
  • Unknown Knowns são aqueles riscos desconhecidos, mas cujo impacto pode ser quantificado. Estes são muito perigosos, pois, na maioria dos casos, o conhecimento mais aprofundado estava disponível, mas não foi acessado. Casos de negligência ou aquela famosa situação em que vemos, mas não enxergamos podem ser exemplos aqui.
  • Unknown Unknowns são os casos totalmente novos, em que todos ficam perdidos, pelo menos no início. Estes eventos muito raros são capazes de mudar o curso do mundo. Os exemplos recentes são o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001 e o que acabamos de passar com a pandemia de Covid-19, quando mercados, setores econômicos e governos ficaram sem referência.

Alguns podem invocar a intenção divina ou mesmo o karma, mas o fato é que entender e mapear seus riscos, saber identificar seus pontos de fraqueza e montar, ao menos mentalmente, seus planos de ação e prioridades é importante para qualquer negócio.

Em especial no agro, com a enormidade de fatores chave e a volatilidade de preços que lhe é peculiar, este exercício ajuda muito a quem pensa na longevidade do negócio.

Direto da mesa de risco

Vemos as safras americanas avançando muito bem, sem sustos meteorológicos. Os períodos mais críticos para o milho ficaram para trás e a soja precisa de apenas mais algumas semanas de condições favoráveis.  Este cenário, somado a uma fraqueza nos mercados de commodities em geral, colocou para baixo o milho e a soja em Chicago.

Assim como no mês anterior, o alívio para o produtor vem do Real, que segue perdendo força devido às incertezas fiscais e mais recentemente ao risk-off global.

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Rafael Harada, colunista de The AgriBiz, é CEO e cofundador da Virtus Advisors, possui mais de 20 anos na gestão de riscos de commodities e câmbio na JBS, onde foi diretor global de gestão de riscos. É engenheiro com ampla experiencia em mercados de commodities agrícolas e finanças corporativas.