Da inteligência militar israelense ao combate ao greening. Se depender do empreendedor Israel Talpaz, a descrição acima pode se tornar realidade neste ano com a SeeTree, num feito capaz mudar a forma como a citricultura se defende da maior ameaça aos pomares.
Não à toa, a brasileira Citrosuco, maior produtora de suco de laranja do mundo, é a principal cliente e uma das maiores investidoras da startup israelense, transformando o Brasil no grande polo de atuação da startup israelense (o país é responsável por metade das vendas).
Criada há quase sete anos em Tel-Aviv, SeeTree vem ganhando tração como uma plataforma de acompanhamento dos pomares, ajudando nas recomendações agronômicas e em medidas para prevenir doenças em culturas como citros, avocado, florestas plantadas e amêndoas.
Para continuar crescendo e desenvolver mais tecnologia, a SeeTree acaba de anunciar uma nova rodada de investimentos. Em uma série C liderada pela gestora do HSBC e pelo Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento (EBRD, na sigla em inglês), a startup levantou US$ 17,5 milhões.
Na rodada, a SeeTree também atraiu novos investidores como OurCrowd — que é uma plataforma global de aportes em venture capital — e SmartAgro. Investidores que já faziam parte do captable da companhia também acompanharam a rodada, incluindo a brasileira Citrosuco e as gestoras Orbia Ventures, Mindest Ventures e TKF, que pertence ao israelense Uri Levine (fundador do Waze).
Com uma tecnologia que aplica inteligência artificial ao usar as imagens de drones tiradas dos pomares, a SeeTree já monitora todas as fazendas da Citrosuco (são cerca de 45 mil hectares). Globalmente, a companhia já acompanha o desenvolvimento agrícola de 400 milhões de árvores.
“Esta rodada vai permitir escalar para mais árvores e outras culturas”, disse o cofundador Talpaz, em entrevista ao The Agribiz. Uma das prioridades é ganhar mercado na cultura de eucalipto, atendendo algumas das maiores companhias de celulose do Brasil. A estreia em cooperativas de café também faz parte dos planos.
Nas projeções de Talpaz, a rodada pode permitir à SeeTree chegar a 1 milhão de árvores monitoradas ainda neste ano. “Estamos expandindo para o norte do Brasil, atendendo grandes produtores de óleo de palma em Belém”, contou o empreendedor.
Paralelamente, o time de tecnologia da SeeTree em uma iniciativa que Talpaz qualifica como uma quebra de paradigma para o combate ao greening. A doença, que tem o psilídeo (um inseto) como vetor, é extremamente danosa e de difícil de detecção. Na Flórida, a produção de laranja já chegou a ser devastada.
“Estamos trabalhando há muito tempo no greening. Ainda não temos a solução, mas acho que neste ano teremos um breakthrough”, disse o CEO da SeeTree.
Segundo ele, a companhia vem trabalhando em um projeto junto com a Citrosuco para melhorar a detecção, fazendo a rápida remoção da árvore. Para ser bem-sucedida, a tecnologia precisa acertar a recomendação, para aplicar inseticida onde o psilídeo cresce.
Com um time de desenvolvimento que fica no Ucrânia, a SeeTree vem trabalhando para aprimorar a tecnologia e a análise dos dados da plataforma — que recebe as imagens dos drones que sobrevoam os pomares.
Nos últimos meses, a startup também lidou com o desafio de lidar com guerra. Quase um terço do time de 35 pessoas em Israel foi convocado para o reforçar as forças as armadas, desfalcando a companhia. Só mais recentemente eles estão voltando.
Ao todo, a startup emprega 90 pessoas. No Brasil, são 13 funcionários. Desde a fundação, a SeeTree já levantou US$ 60 milhões.