O que um engenheiro de computação e uma pesquisadora de abelhas fazem juntos? Criam uma startup de polinização assistida. Pelo menos essa é a história de Guilherme Sousa e Andresa Berretta, co-fundadores da Agrobee, uma empresa que nasceu em 2018 e conta com a gigante de biológicos Koppert como sócia. Agora, a startup ganha um novo impulso com uma parceria inédita com o Banco do Brasil.
A Agrobee, que tem também entre os sócios as empresas de venture capital AgroVen e Bossa Invest, leva abelhas a fazendas durante a fase de polinização nos ciclos de grandes culturas — principalmente soja, café e laranja — com o objetivo de melhorar a produtividade. Hoje, são mais de 60 mil colmeias espalhadas pelo Brasil, a partir de convênios firmados com apicultores em diferentes regiões do País.
“Temos papers divulgados que afirmam que o impacto da polinização na agricultura brasileira pode ultrapassar R$ 30 bilhões. É algo muito significativo, mas sobre o qual ainda existe muito desconhecimento no campo. A nossa visão é a de integrar a abelha dentro do manejo de forma que se torne ecologicamente sustentável”, disse o CEO da Agrobee, Guillherme Sousa, ao The AgriBiz.
Nascida a partir de um edital da Fapesp, que injetou R$ 900 mil na companhia, a Agrobee vai chegar ao primeiro R$ 1 milhão de faturamento neste ano. Diante de uma área plantada de mais de 45 milhões de hectares de soja no País, vê espaço de sobra para crescer.
A parceria com o BB
De olho em fortalecer o crescimento da companhia, o BB vai conceder condições especiais de crédito de custeio a produtores que usarem os serviços da Agrobee em suas lavouras. As condições variam de estado para estado, mas entre as vantagens já divulgadas, estão a prioridade na análise de crédito no banco e descontos em tarifas.
Em um evento realizado na Expocacer (Cooperativa de Cafeicultores do Cerrado), o banco também ressaltou como vantagem estudos de operações rurais (que hoje compreendem 0,5% do valor financiado por produtores). Quem já for cliente do banco e se tornar da Agrobee terá desconto de 50% nessa tarifa.
“A parceria é recente, mas temos muita expectativa de que um parceiro de peso como o Banco do Brasil faça com que a gente consiga levar nossa mensagem a cada vez mais lugares. E, claro, colocar cada vez mais abelhas para trabalhar, no melhor sentido”, afirmou Sousa.
Ganhos na produtividade
Para levar a teoria à prática, a empresa reúne uma equipe de doutores formados pela USP Ribeirão Preto que buscam adaptar os resultados de pesquisas científicas para o manejo de diferentes culturas, validando-os e padronizando-os em escala.
“Existe literatura mostrando que a presença dos insetos durante a florada incrementa a produtividade entre 10% a 15%, dependendo do estudo. Num recorte de dez anos feito recentemente, de 2010 a 2019, comprovou-se que toda a evolução genética de manejo e insumo representou um aumento de produtividade de 7% no Brasil e de 15% na Argentina”, explica o CEO. O estudo em questão foi feito pela Universidade de Iowa junto com a Rio Negro, da Argentina, e a British Columbia.
Por enquanto, a equipe ainda é pequena, com cerca de cinco profissionais, que vêm acompanhando os resultados dos serviços de polinização nas últimas seis safras. Em cada fazenda que contrata os serviços, é montado um plano de ação, com o objetivo de impactar o mínimo possível o manejo já realizado.
De 2018 para cá, a empresa já colocou seus serviços em mais de 2 mil hectares de café e em outros 2 mil hectares de soja. No café, o serviço de polinização custa R$ 1,1 mil por hectare (menos de uma saca). Com esse investimento, o produtor consegue um retorno médio de sete sacas a mais por hectare. Na soja, o serviço custa R$ 350 por hectare — ou menos de três sacas — para um retorno que se aproxima de cinco a seis sacas por hectare.
Hoje, a empresa já presta serviços em todo o Brasil, por meio da rede de apicultores formada ao longo dos últimos anos. Os apicultores são remunerados tanto pela polinização quanto por uma eventual produção de mel durante o período em que as abelhas estão “trabalhando” na safra.
“A polinização pode até superar a produção de mel como fonte de receita para os apicultores. Entra como um serviço adicional para ele se profissionalizar, em uma cadeia muito fragilizada. Além disso, abre espaço também para os meliponicultores [criadores de abelhas sem ferrão] hoje uma atividade realizada principalmente como hobby”, diz Sousa.
Hoje, a principal região de atuação da startup está em Minas Gerais, Goiás e São Paulo, mas a ideia é expandir esse raio cada vez mais. Além desses estados, recentemente, a startup já fez projetos de polinização de soja em Roraima e no Rio Grande do Sul, por exemplo, e se prepara para entrar no Tocantins, que se comprometeu a criar incentivos para a polinização assistida.