Consumo

Carne de laboratório mais perto da mesa

Startup israelense pede aprovação para vender carne cultivada na Europa; EUA já liberaram frango de laboratório para consumo

A carne de laboratório está deixando de ser produto do futuro. Nos últimos meses, a indústria mundial deu passos importantes em direção à regulamentação, o maior desafio para levar carne produzida a partir de células de animais ao consumidor.

A israelense Aleph Farms — uma investida da BRF — solicitou a primeira autorização para vender carne de laboratório na Europa. A startup pediu às autoridades de segurança alimentar da Suíça a aprovação para vender seus cortes em parceria com a Migros, a maior empresa de alimentos do país.

Cortes de carne de laboratório produzidos pela startup israelense Aleph Farms | Crédito: Divulgação

A empresa também já solicitou aprovação regulatória no Reino Unido, disse o CEO da Aleph Farms, Didier Toubia, em entrevista publicada hoje pela Bloomberg. Ainda este ano, a companhia pretende lançar seus cortes de carne bovina em Cingapura e Israel.

“Nossa equipe regulatória está trabalhando de forma semelhante com as autoridades reguladoras em vários mercados ao redor do mundo, incluindo a Suíça, para garantir a conformidade com os respectivos requisitos de segurança”, disse a Aleph Farms em recente comunicado.

Em junho, o Departamento de Agricultura dos Estados autorizou a Eat Just Inc. e a Upside Foods Inc. a vender carne cultivada de frango, em um marco para o setor que investiu quase US$ 3 bilhões nos últimos sete anos para desenvolver carne e frutos do mar em laboratório, segundo dados do The Good Food Institute.

Brasileiros no laboratório

As empresas brasileiras, líderes globais no mundo da carne, não estão de fora da corrida pela carne de laboratório e almejam ofertar o produto a partir de 2024.

A JBS está construindo, em Santa Catarina, o seu centro global de pesquisa em proteína cultivada. A unidade é parte do investimento de US$ 100 milhões que a companhia anunciou para este mercado entre 2021 e 2025.

Por meio de uma participação majoritária na BioTech Foods, a JBS também está erguendo uma planta comercial na Espanha com capacidade para produzir até quatro mil toneladas de carne cultivada por ano, o que colocaria a fábrica como a maior do mundo no segmento.

A BRF fez um investimento de US$ 2,5 milhões na Aleph Farms em 2021 com a expectativa de incluir carne cultivada em seu portfólio também a partir do próximo ano.

Desaceleração

Entre 2010 e 2022, o número de deals envolvendo empresas inovadoras no setor de alimentos disparou 288%, com fundos de venture capital respondendo por cerca de metade dos negócios, segundo estudo recente do Rabobank.

A onda de investimentos foi estimulada pelo cenário de baixas taxas de juros, por uma demanda de jovens consumidores por produtos disruptivos e anseio das empresas de estar à frente de novas tecnologias. Mas o retorno de parte desses investimentos foi frustrante após anos de problemas logísticos causados pela pandemia de covid-19 e aumento da inflação, o que elevou os custos das indústrias.

Ao mesmo tempo, a inversão da trajetória das taxas de juros, agora em patamares elevados, ajudou a alterar o cenário para investimentos em produtos inovadores, segundo o Rabobank. “As empresas de alimentos estão focando em inovações que priorizem a viabilidade comercial”, disse o Rabobank.

A corrida, agora, é para colocar a carne de laboratório na mesa dos consumidores.