A Yvy Capital, gestora fundada por Paulo Guedes e Gustavo Montezano (ex-BNDES), está em conversas com investidores para levantar R$ 300 milhões e investir na Solinftec, o que pode transformá-la uma das maiores acionistas da startup de robótica e agricultura de precisão.
As conversas para a captação do FIP (sigla para Fundo de Investimentos em Participações) vêm ocorrendo desde abril, quando a Yvy Capital assinou um acordo com a Solinftec que garante exclusividade para fazer a due diligence e concluir a transação, apurou The AgriBiz.
Muitas vezes apontada como uma forte candidata para se tornar o primeiro unicórnio do agronegócio brasileiro, a Solinftec ainda está longe da marca de US$ 1 bilhão em valuation, mas a entrada da Yvy Capital ilustra o potencial da companhia, que vem ganhando tração e lucratividade.
Pelos termos da transação, a gestora de Paulo Guedes ficaria com 17% da Solinftec, a um valuation (pre-money) de R$ 1,45 bilhão — cerca de US$ 270 milhões, considerando a atual cotação da moeda americana. Quando se considera as dívidas, o valuation (enterprise value) é de R$ 1,75 bilhão, disseram as fontes.
Nas abordagens com os investidores, a Yvy Capital estima que a aposta na Solinftec pode multiplicar o capital em pelo menos cinco vezes, com uma taxa de retorno de 35% ao ano. Como em qualquer negociação desse gênero, até a assinatura os termos gerais e valores podem mudar.
IoT nas lavouras
Fundada pelo cubano Britaldo Hernandez, a Solinfitec se vale de dispositivos IoT (sensores, estações meteorológicas etc.) para capturar dados das lavouras. A partir daí, a startup desenvolveu um software que aplica inteligência artificial para trazer recomendações aos agricultores.
A tecnologia da Solinfitec vem crescendo em grãos e possui grande penetração nos canaviais, atendendo praticamente todos os grandes grupos sucroalcooleiros do País. As usinas atendidas pela startup conseguem gerir melhor a logística de máquinas nos canaviais, poupando recursos.
Por ser um negócio que usa muito hardware, a Solinfitec é intensiva em capital, o que já chegou a preocupar investidores diante da queima de caixa. Nos últimos tempos, no entanto, a companhia se aproximou do breakeven.
Não à toa, a startup já havia conseguido convencer os investidores de dívida. No fim do ano passado, a Solinftec levantou um CRA de R$ 150 milhões com juro de CDI + 5,5% ao ano, atraindo assets tradicionais como Verde e Viland. As gestoras FG/A e Devant também compraram o papel para seus respectivos Fiagros.
A tese do CRA, estruturado pelo Itaú BBA, já indicava a evolução financeira da companhia. Para emitir os papéis, a Solinftec aceitou usar o Ebitda como covenant, sugerindo que a companhia estava no caminho da geração de caixa.
“Foi a última janela de oportunidade para o investidor obter uma remuneração nesse patamar com uma empresa que já atingiu o breakeven”, disse Laís Braido, CFO da Solinftec, em uma entrevista em 2023.
No ano passado, a startup cresceu quase 40%, entregando uma receita líquida de aproximadamente R$ 260 milhões. O Ebitda, que era negativo até 2022, chegou a R$ 86 milhões, com uma margem de 33%.
Os dados do Ebitda, no entanto, ainda não são perfeitos. Por causa dos altos gastos com P&D, a companhia exclui do cálculo as despesas com o Solix, o robô que promete revolucionar a história da companhia (trazendo ganhos de produtividade para a agricultura).
Solix, a grande aposta
A aposta da Solinftec é que o Solix, um robô que ajuda a identificar pragas e faz a aplicação de precisão dos defensivos agrícolas, terá um crescimento explosivo, no Brasil e também nos Estados Unidos.
Ao que tudo indica, as vendas do robô devem superar as projeções iniciais da companhia neste ano, batendo R$ 17 milhões.
Com os recursos da Yvy Capital, a startup quer acelerar o crescimento das vendas do Solix. No longo prazo, o negócio pode ser praticamente equivalente à plataforma de software que a companhia possui hoje, gerando insights para o uso de máquinas nas lavouras.
No plano traçado pela Solinftec, o faturamento total da companhia passaria de R$ 2 bilhões em 2029, com quase R$ 1 bilhão gerado pelo Solix. O Ebitda do negócio como um todo poderia chegar a R$ 580 milhões.
Considerando um múltiplo de 12 vezes o Ebitda, o valuation poderia chegar aos R$ 7 bilhões em cinco anos. É um retorno para ninguém botar defeito. Além da Yvy Capital, a Solinfitec pode trazer retorno para os demais investidores. Desde a fundação, a startup levantou mais de US$ 100 milhões, trazendo sócios como Lightsmith Group e Unbox Capital, o family office de Luiza Trajano.
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Procuradas, Solinftec e Yvy Capital não comentaram.