RIO DE JANEIRO – O investimento em agtechs é capaz de dar conta de um mundo faminto? De forma sustentável, não. Direta, a resposta à pergunta mote para o painel sobre tecnologia, alimentos e agricultura que ocorreu nesta quinta-feira no FII Priority Summit veio do indiano Praveen Penmetsa, cofundador e CEO da Monarch Tractor.
“Atualmente, menos de 20% do que é realmente necessário para atendermos à demanda está acontecendo. De forma sustentável, a resposta à questão é não. Em um mundo sustentável, talvez sim”, argumentou Penmetsa durante o painel.
A sala do Copacabana Palace estava um tanto esvaziada por competir com o horário do almoço do FII Priority, mas ainda assim a discussão conseguiu atrair pesos pesados para a plateia, incluindo o CEO da Cargill no Brasil, Paulo Souza.
Na discussão, o empreendedor indiano não estava só. Ele dividiu o painel com alguns dos brasileiros mais proeminentes nos investimentos em tecnologia para o agronegócio: os gestores de venture capital Flávio Zaclis (Barn), Francisco Jardim (SP Ventures) e Antônio Moreira Salles (Mandi).
O debate também extrapolou o universo das agtechs, incluindo aquela que talvez seja a maior gestora de private equity que investe em agronegócios no Brasil. Marcos Haaland, o operating partner do Pátria que acompanha as investidas da firma em agro, deu o tom.
Se investir em alimentos de forma sustentável ainda está abaixo do que é preciso, ninguém mais do que o Brasil tem condições de liderar essa agenda, além de ser um player fundamental para a segurança alimentar de muitas nações.
Não à toa, o fundo soberano da Arábia Saudita (PIF) vem se aproximando do País, prospectando inclusive investimento minoritário em companhias de produção de grãos, disse uma autoridade saudita à reportagem.
“Pode parecer óbvio para nós, mas falar em duas safras e integração entre lavoura e pecuária para os estrangeiros ainda é algo novo”, ressaltou Haaland em entrevista ao The AgriBiz.
Transformação verde
A rápida adoção dos insumos biológicos pelos produtores brasileiros também foi citada como uma demonstração da capacidade de transformação verde do País. “Cada vez mais, vemos que o prêmio por ser um produtor verde deixa de existir até porque os biológicos já não são mais caros que os químicos hoje em dia”, ressaltou Zaclis.
Jardim, da SP Ventures, fez questão de mencionar que as tecnologias rumo a uma agricultura com menos uso de químicos já demonstram retorno financeiro, destacando a impressionante venda da Biotrop à belga Biobest, no ano passado.
A tecnologia também pode ajudar a resolver o problema de doenças que assolam muitas lavouras, como o greening na Flórida (Estados Unidos) ou a sigatoka negra, uma doença fúngica que pode devastar a produção de bananas.
“Estamos vendo várias doenças desconhecidas aparecendo. Com tecnologia talvez possamos resolver isso”, disse Moreira Salles, citando as revoluções da engenharia genética como um grande potencial.