No vale do Piracicaba, um dos maiores polos de inovação do agro brasileiro, Godofredo Vitti é uma das lendas. Agrônomo, o professor da Esalq é um dos artífices do GAPE, o centro de pesquisas que ajudou a formar uma geração de pesquisadores e empreendedores que estão na linha de frente da adoção de insumos biológicos no Brasil.
Do grupo liderado por Vitti, saíram nomes como Marcos Petean, Fernando Reis e um grupo de executivos responsáveis pela ascensão da Gênica, companhia de biológicos que conseguiu superar as dificuldades dos primeiros anos para se tornar uma queridinha entre investidores.
Fundada em 2015, a Gênica levantou três rodadas, atraindo firmas de venture capital como SP Ventures e sócios minoritários como Nitro (controlada pela Faro Capital, um family office de Ribeirão Preto) e a gigante americana de fertilizantes Mosaic.
Num mercado que acaba de mudar de patamar com a bilionária compra da Biotrop pela belga Biobest, a Gênica sempre foi vista como um dos alvos de investimentos para os players que perdessem a disputa pela companhia de biológicos do Aqua Capital.
“A Gênica cresce o dobro do mercado”, contou Marcos Petean, o CEO da companhia, numa conversa com o The Agribiz há duas semanas. Segundo ele, a companhia vem dobrando de tamanho a cada ano desde 2019 e deve crescer pelo menos mais 70% em 2023.
Exclusivamente em biológicos, um mercado da ordem de US$ 1 bilhão, a Gênica está entre os cinco principais players. “Os números que estamos atingindo se mostram coerentes com a meta de fazer R$ 500 milhões de receita em 2025”, disse Galak, como o empreendedor é mais conhecido entre os esalqueanos.
Investimentos
Para crescer, a Gênica vem ampliando os investimentos em capacidade fabril e nos times de P&D e comercial. A expectativa da startup é encerrar o ano com 260 funcionários. Só em pesquisa e desenvolvimento, o time quadriplicou de tamanho. A capacidade da fábrica de Piracicaba deve triplicar até dezembro, contou Petean.
Ao contrário de outros tempos, quando startups de diversos setores da economia investiam por muitos anos enquanto ainda queimavam caixa, no modelo da Gênica já há Ebitda positivo e o crescimento só ocorre quando o ritmo das vendas permitir. “Não colocamos o carro na frente dos bois”, advertiu o empreendedor.
Petean evita abrir detalhes sobre novas rodadas, mas a Gênica deve continuar com uma mescla de rodadas de equity e dívida para seguir crescendo. “Esse modelo híbrido faz com que a Gênica sempre fique com nível de dívida baixo, e pouco alavancada”, explica.
Desde a fundação, a startup captou R$ 50 milhões em equity e R$ 100 milhões em dívidas. Nos últimos meses, a Gênica também vem mantendo conversas com investidores para uma rodada série B.
Além dos biológicos
Enquanto prepara o crescimento, a Gênica também vem buscando um posicionamento diferente com os clientes para além dos biológicos. Embora eles sejam o carro-chefe das vendas, a startup se apresenta como uma plataforma com soluções para agricultura regenerativa, atendendo às demais necessidades dos agricultores na adoção de práticas mais sustentáveis.
A estratégia passa por três pilares: biológicos, plantas de coberturas e bioestimulantes.
Assim, o portfólio da Gênica passou a incluir plantas de cobertura para serem usadas na entressafra, ajudando no manejo do solo. “Vendemos um saco de semente com seis plantas diferentes, que terão um papel importante na diversidade biológica”, explica Petean. As sementes (crotalária, milheto e forrageiras) são previamente tratadas com defensivos biológicos.
A companhia também vende bioestimulantes, um produto à base de carbono orgânico que ajuda a potencializar a ação dos microrganismos nas plantas. Nessa estratégia, os biológicos devem responder por cerca de 80% das vendas.
Por cultura, soja e milho são os principais mercados da Gênica, mas a cana também representa uma fatia importante (20%). Regionalmente, a companhia está espalhada, com boa presença no Centro-Oeste e também no Paraguai, de onde já deve vir 10% das vendas.