Gestora

Rural Ventures traz Rafael Harada para originar operações de crédito e M&As

Ex-diretor global de gestão de riscos da JBS vai liderar a Rural Capital, braço financeiro recém-criado pela firma de Fernando Rodrigues

Fernando Rodrigues, sócio-fundador da Rural Ventures
Fernando Rodrigues, sócio-fundador da Rural Ventures, durante evento com investidores e empreendedores no Cubo | Crédito: Divulgação

Quando Fernando Rodrigues liderava a mesa de commodities da XP, Rafael Harada era um dos clientes mais frequentes. À frente da gestão de risco da JBS, o engenheiro de produção tocava uma área gigantesca, com posições em contratos futuros de boi gordo, grãos e câmbio. Àquela altura, poucos imaginariam que a relação comercial os aproximaria definitivamente.

Depois que saiu da XP, há três anos, Rodrigues se embrenhou no ecossistema de inovação do agronegócio, passou a investir em agtechs e criou a Rural Ventures — firma de investimentos que se propõe a construir um ecossistema para unir o agronegócio da economia real ao tecnológico.

Não demorou muito para Rodrigues atrair Harada para o jogo. Inicialmente, o ex-JBS se tornou um investidor nos club deals que a Rural Ventures montou para investir em agtechs, passando a fazer parte do conselho de administração da Agroboard — uma das investidas.

Agora, a parceria entre ambos vai extrapolar a posição de investidor passivo. Harada acaba de se tornar sócio da Rural com a missão de abrir a Rural Capital, uma vertical do ecossistema especializada na originação de operações financeiras, desde emissões de dívida no mercado de capitais até a assessoria de produtores rurais e agroindústrias em M&As.

“A forma como o produtor e agroindústrias entendem os números é diferente da forma como o mercado financeiro atua. O Rafa pode ser o interlocutor entre essas pontas no ecossistema”, disse Rodrigues.

Antes da Rural, Harada já vinha atuando nessa tradução. Pela Virtus Advisors, consultoria de gestão de risco que comanda a partir de Goiânia, já trabalhou com agricultores na montagem da estratégia de hedge e desenhou a política de gestão de risco da Agriconnection, companhia altamente exposta ao câmbio por causa das importações de defensivos agrícolas.

“Muita gente cresceu muito rápido na agricultura, mas o escritório ficou para trás. O pessoal está faturando R$ 200 milhões, R$ 300 milhões, mas ainda sem um nível de profissionalização correspondente. A Virtus atende essa demanda de profissionalização”, disse Harada.

Os trabalhos da Virtus permanecem independentes da Rural, mas é inegável que ela vai ajudar a originar clientes para a recém-criada área de operações financeiras — sejam M&As ou emissões de dívidas.

O braço financeiro liderado por Harada também abre uma nova fonte de receita para a Rural, mas os benefícios podem ir além das operações financeiras que ele pode gerar, disse Rodrigues.

A ideia é que a Rural Capital fortaleça a missão de aproximar os produtores rurais e donos de agroindústrias dos empreendedores que estão criando tecnologias para o agro. Com o tempo, esses clientes poderão se transformar também em investidores do braço de venture capital.

“É uma via de caminhos infinitos. Pode ter dinheiro dos produtores indo para o venture capital, e novas tecnologias das startups indo para o campo”, disse Harada ao The AgriBiz.

A abordagem faz sentido na estratégia que a Rural vem construindo. Ao contrário de gestoras de venture capital mais consolidadas, que levantam recursos junto a family offices, investidores institucionais e corporações, a firma criada por Rodrigues vem tentando catequizar o produtor rural sobre os benefícios de apoiar o desenvolvimento de novas tecnologias.

Nesse processo, a gestora já havia atraído o empresário Fábio de Rezende Barbosa — dono da NovAmérica, uma das maiores produtoras de cana do País — como sócio-investidor.

Na Rural, a relação com os investidores é uma tarefa coordenada por André Amorim, sócio que conheceu Rodrigues ainda nos tempos de XP — lá, ele trabalhou por 17 anos. Neste momento, Amorim conduz as conversas com os investidores para fechar o primeiro fundo de investimentos em agtechs da Rural Ventures. A ideia é levantar R$ 50 milhões.

“Hoje, temos mais ou menos metade desses recursos comprometidos por produtores. Vamos fechar a captação daqui a dois meses”, disse Amorim. O foco do fundo é investir em startups em estágio inicial.