
Combater bactérias com antibióticos, para a PhageLab, é coisa do passado. Fundada há 15 anos, a biotech chilena elimina principalmente a salmonella usando bacteriófagos — vírus que infectam e eliminam bactérias de forma específica, chamados também de “fagos”.
O foco do negócio está na saúde animal: no Brasil desde 2021, a startup acelerou por aqui há cerca de um ano, atendendo hoje a um volume equivalente a 10% da produção de frango de corte no Brasil — o maior exportador mundial da proteína — com a meta de dobrar esse alcance até o final de 2025.
A ideia de fundar a PhageLab veio dos amigos Hans Pieringer, Pablo Cifuentes e Nicolás Ferreira, colegas na Universidad Andrés Bello (uma das principais universidades privadas de Santiago). A decisão de focar nos bacteriófagos veio de Pieringer, apaixonado por ciência e formado em engenharia de biotecnologia.
“Levamos 14 anos para atingir o patamar necessário para ter um produto aprovado no Brasil e estamos muito satisfeitos com a rápida adoção dele para salmonella”, afirmou Pieringer ao The AgriBiz.
A startup tem nomes de peso entre os apoiadores. Desde a fundação, captou R$ 60 milhões com investidores como Kevin Efrusy — um dos primeiros a investir no Facebook — além de Gympass, QuintoAndar, Nazca Ventures, Kaszek (dos ex-Meli), além das firmas de capital de risco Collaborative Fund e Water Lemon Ventures.
No ano passado, finalizou uma rodada série A em que captou R$ 34 milhões e deve trabalhar para uma série B até o final do ano. Com os recursos a serem injetados na nova rodada, a companhia tem planos de continuar a todo vapor na estratégia de crescimento.
Investimentos em mais capacidade estão na mira — incluindo uma possível fábrica e um laboratório no Brasil —, bem como a expansão dos negócios para os Estados Unidos e Europa.
O dinheiro também deve ajudar a empresa a estudar novas formas de aplicação do produto e novos nichos, indo além do frango para analisar os mercados de suínos e de pets, por exemplo.
“O mercado dos bacteriófagos é enorme. São estudados inclusive para a saúde humana. Hoje, já não compensa mais, financeiramente, estudar novos antibióticos na indústria farmacêutica. É muito difícil encontrar novas moléculas e, quando são encontradas, têm uma vida útil curta, que não paga pelos anos de pesquisa”, diz Sabrina Torgan, CFO da startup.
O produto contra a salmonella
Hoje, a PhageLab tem uma plataforma própria, com uma biblioteca de mais de 1.000 fagos adaptados para uso em campo no Brasil, e um estudo de mais de 7.000 variações de bactérias, sendo uma das maiores produtoras de fagos do mundo.
O principal produto da startup, o Inspektor, combate as variações predominantes da salmonella no Brasil, a Minnesota e a Heidelberg. O produto foi autorizado para comercialização pelo MAPA em 2023 e, no fim do ano passado, virou case publicado na revista Poultry Science.
O estudo envolveu 17 granjas comerciais no Paraná. Nesse grupo, 3 milhões de aves receberam a solução durante quatro ciclos de criação de frango. Os resultados foram comparados a um grupo de um milhão de aves que não recebeu a solução.
A aplicação do produto, um “coquetel”, é tão simples quanto uma solução dissolvida na água que as aves consomem, durante três momentos ao longo de cada ciclo.
O trabalho mostrou que o Inspektor reduziu a carga de salmonella em até seis logs nos ciclos tratados. Cada log representa uma diminuição de cerca de 1 milhão de vezes na quantidade de salmonella (na prática, se a granja tinha 1 milhão de bactérias antes da aplicação do coquetel, depois do tratamento, a quantidade foi reduzida para apenas uma bactéria).
Para conseguir chegar nesse resultado, a PhageLab conta com uma estrutura verticalizada de análise e desenvolvimento de produtos, acompanhando desde a coleta de bactérias até o desenvolvimento de coquetéis especializados. São, ao todo, 120 colaboradores divididos entre Brasil e Chile.
As soluções são desenvolvidas no Chile, onde está a fábrica da empresa, que tem uma capacidade de atender a 590 milhões de aves. Até 2025, a projeção é dobrar o volume de produção e atender 2 bilhões de frangos anualmente.
Outro projeto da companhia é um programa-piloto para aplicar a Fórmida, um produto para combater a E-coli. Pensar em duas doenças pode parecer pouco, mas está longe de ser pouco trabalho. Só a salmonella tem mais de 2 mil variações mapeadas — e a presença varia de forma significativa de granja para granja.
Um fee por eficácia
Para crescer no Brasil, a startup desenvolveu um modelo em que os clientes pagam um fee por eficácia da solução. “É uma indústria muito focada em custo porque a margem é baixíssima. Qualquer produto que fuja do habitual tem um orçamento muito pequeno”, diz Torgan.
A empresa não divulga valores de faturamento ou outros dados do balanço. Mas, por enquanto, ainda não gera caixa. “O modelo de pagamento por performance ainda é recente e, além disso, fizemos muitos ajustes na fábrica de Santiago no ano passado”, diz Torgan. “Estamos mudando de uma empresa pré-operacional para uma operacional neste ano”, acrescenta.