Uma queridinha de muito gestor tarimbado da Faria Lima, a Vittia não escapou da crise que sacudiu as indústrias e distribuidoras de insumos agrícolas. A deterioração do mercado castigou os resultados da companhia da família Romanini e pulverizou o valuation na bolsa.
Desde o IPO, as ações da Vittia caíram quase 40% em um mercado mal-humorado com praticamente todas as novatas da B3. Mas a sangria pode ter ido longe demais.
Em relatório distribuído a clientes, o Itaú BBA notou uma aversão exagerada à Vittia. Nos cálculos dos analistas Gustavo Troyano, Larissa Péres, Bruno Tomazetto e Daniel Sasson, as ações da companhia de São Joaquim da Barra (SP) negociam como se ela não fosse gerar qualquer valor no longo prazo.
Na frieza dos números, não faz qualquer sentido, sugeriram os analistas do banco de investimentos. A Vittia não só é uma companhia sólida como está inserida em mercado de biológicos — que cresce 5% ao ano — além de ter margens polpudas.
Ainda que boa parte do valor da Vittia esteja no crescimento de longo prazo — à medida que a adoção dos biológicos cresça —, a compressão da cadeia produtiva dos grãos mostrou que o negócio dos Romanini é capaz de resistir aos sacolejos.
Curto prazo
No curto prazo, é verdade, a companhia não fica imune. Não à toa, o Itaú BBA cortou as projeções para o Ebitda da Vittia nos próximos dois anos. A equipe projeta que o número deve ficar 34% menor do que havia estimado inicialmente para 2024, totalizando R$ 174 milhões. Ainda assim, é um montante 23% maior do que o registrado no árido ano de 2023. Para 2025, o corte foi de 28%.
Neste ano, a geração de caixa ainda deve ficar acanhada, em R$ 44 milhões, o que significa um yield de 5,5%. “Embora não seja um nível inspirador, ele mostra a resiliência de um negócio que ainda gera caixa em meio a um dos piores reveses para o agronegócio nos anos recentes”, escreveram os analistas.
Com um valuation tão descontado, a Vittia parece oferecer um upside considerável. No relatório, o Itaú BBA reiterou a recomendação de compra, com um preço-alvo de R$ 9. O upside potencial é de 73% em relação ao fechamento desta terça-feira, um percentual nada desprezível.
O banco também espera que a companhia distribua 30% do lucro em dividendos, o que se traduz em um dividend yield de 4% para 2024.
Longo prazo
Na leitura dos analistas da Vittia, os investidores não deviam perder de vista que a companhia é uma tese de crescimento, ou seja, a maior parte de sua geração de caixa está no médio e longo prazo. Em casos como esse, os juros ainda altos jogam contra.
“Na nossa visão, a Vittia tem uma vantagem competitiva suficiente para gerar valor ao longo do tempo, e vemos a margem bruta de biológicos se estabilizar em 57% em 2030”, afirmaram.
É uma margem considerável, ainda que menor dos que as registradas nos últimos anos — em que o boom dos biológicos ajudou a catapultar a Vittia.
Quando consideram todos esses fatores, os analistas do Itaú BBA reforçam a confiança na capacidade de entrega da companhia ao longos dos próximos anos.
“Apesar dos desafios colocados pela compressão da cadeia de abastecimento do agronegócio, ainda acreditamos que o objetivo final da Vittia no mercado de produtos biológicos permanece praticamente inalterado”, escrevem.
A leitura do Itaú BBA converge com as impressões de Wilson Romanini, o sincero CEO da Vittia. Depois de chocar o mercado no primeiro trimestre ao declarar que não via luz no fim do túnel, o executivo mudou o tom na última conferência. Agora, há um feixe de esperança.
Se a tendência se confirmar, as casas que investiram na Vittia podem começar, finalmente, a ver o papel andar.
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Avaliada em quase R$ 800 milhões na B3, a Vittia é controlada pela família Romanini. Pelos últimos dados disponíveis na CVM, a companhia conta com algumas das gestoras mais conhecidas do mercado entre os investidores: Tarpon, JGP, SPX, Absolute, Real Investor, Ori Capital, Versa, HIX e Vista, entre outras.